Nestes versos, o
poeta argentino emprega uma linguagem críptica, com imagens algo surrealistas,
para transmitir a ideia de que existe um mundo de sombras, dominado por reinos
ocultos que urdem uma rede de influência sobre nossas vidas, dirigindo nossos
passos e quereres, sem que nos demos conta.
Há elementos no poema
que suportam tanto uma interpretação que se oriente a levar em conta as influências
externas às pessoas – a exemplo das pressões que nos impõe a sociedade sobre
papéis e expectativas que, em última instância, podem nos distanciar de nossas
verdadeiras identidades –, quanto internas – o mundo secreto do inconsciente, governado
por forças psíquicas que condicionam nossos destinos, capazes de erigir um “cárcere”
de limitações e de padrões autodestrutivos.
Seja como for, aos
olhos do falante, seríamos como que “criaturas desertas”, à mercê de forças
oprimentes, naquilo que entregues, fatal e resignadamente, ao transcurso do
tempo, entre passados sepulcrais – afinal, somos também, em grande medida, os
nossos mortos e ausentes! – e sonhos não realizados.
J.A.R. – H.C.
Carlos Mastronardi
(1901-1976)
Los Reyes Olvidados
A Miguel Angel
Fernández
Las personas del
sueño te persiguen y asedian
mientras juegas con
seres concretos bajo el día,
y oscuras poblaciones
desde los hondos años
trabajan escondidas
para erigir tu cárcel.
Tejen tu viva trama
muchos reyes secretos,
y en la tierra más
tuya, silenciosos, se afanan
los tiranos sutiles
que te dictan entero
mientras tus ojos se
abren al mundo que conoces.
Suaves monstruos te
llevan a un mentido futuro
que pronto será
sombra tenaz de lo disuelto.
Te vulneran y vencen
las flores que han ardido
en la centella larga
de la edad que te inunda.
El ayer vengativo
siempre aviva tu anhelo
con la rosa esperada,
pero en ti ya marchita.
Los olvidados seres
que a la sombra cediste,
en harapos regresan y
al porvenir te arrojan.
Te excavan y te
ahondan lentísimos ausentes,
oh tumba de los
otros, alma vuelta al mañana,
sumisa a unos
fantasmas que te sitian y roban
para entregar al
tiempo la criatura desierta.
En: “Siete poemas”
(1963)
Uma Lágrima
(Marcel Caram: artista
mineiro)
Os Reis Esquecidos
A Miguel Angel
Fernández
As pessoas do sonho te
perseguem e te assediam,
enquanto brincas com
seres concretos sob o dia,
e populações furtivas,
desde incomensuráveis anos,
trabalham escondidas
para erigir teu cárcere.
Muitos reis secretos
tecem a tua vívida trama,
e na terra que é mais
tua, silenciosos, locupletam-se
tiranos sutis que te sentenciam
por inteiro,
enquanto teus olhos
se abrem ao mundo que conheces.
Monstros gentis te conduzem
a um futuro falacioso,
que em breve será uma
sombra tenaz do dissolvido.
Vulneram-te e
dominam-te as flores que têm ardido
sob a longa centelha
da idade que te inunda.
O ontem vingativo
sempre alimenta o teu desejo
pela esperada rosa,
mas em ti já emurchecida.
Os seres esquecidos
que à sombra cedeste,
em farrapos regressam
e ao porvir te impelem.
Escavam-te a
afundam-te lentíssimos ausentes,
ó túmulo dos outros, alma
orientada ao amanhã,
submissa a alguns
fantasmas que te cercam e te roubam,
para entregar ao
tempo a criatura deserta.
Em: “Sete poemas”
(1963)
Referência:
MASTRONARDI, Carlos.
Los reyes olvidados. In: __________. Poesías completas. Prólogo de Juan
Carlos Ghiano. Buenos Aires, AR: Academia Argentina de Letras, 1982. p.
121-122.
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