Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Wisława Szymborska - Pietà

Szymborska, tomando a representação da Virgem Maria segurando o corpo de Cristo depois da crucificação, emprega-a como metáfora para contrastar a imagem de veneração e sacrifício com a da trivialidade e a falta de profundidade com que se trata a memória dos heróis contemporâneos, idealizando-os ou simplificando-os, para, logo após, relegá-los a anedotas superficiais, perdendo de vista o verdadeiro legado que deixaram.

 

A poetisa polonesa bem retrata a distância entre a realidade a que esteve exposto o herói e a maneira como é percebido pelos demais, em particular pelos turistas que o idolatram, longe de captarem a essência maior de uma vida extraordinária. Por outro lado, a partir das percepções da mãe do herói, em íntima conexão com o filho, pode-se perceber, ainda que pela via do sobredito contraste, a relevância da perda e da memória em relação àqueles que foram silenciados pela violência, fuzilados em seus ideais de justiça.

 

J.A.R. – H.C.

 

Wisława Szymborska

(1923-2012)

 

Pietà

 

W miasteczku, gdzie urodził się bohater,

obejrzeć pomnik, pochwalić, że duży,

spłoszyć dwie kury z progu pustego muzeum,

dowiedzieć się, gdzie mieszka matka,

zapukać, pchnąć skrzypiące drzwi.

Trzyma się prosto, czesze gładko, patrzy jasno.

Powiedzieć, że się przyjechało z Polski.

Pozdrowić. Pytać głośno i wyraźnie.

Tak, bardzo go kochała. Tak, zawsze był taki.

Tak, stała wtedy pod murem więzienia.

Tak, słyszała tę salwę.

Żałować, że nie wzieło się magnetofonu

i aparatu filmowego. Tak, zna te przyrządy.

W radiu czytała jego list ostatni.

W telewizji śpiewała stare kołysanki.

Raz nawet przedstawiała w kinie, aż do łez

wpatrzona w jupitery. Tak, wzrusza ją pamięć.

Tak, trochę jest zmęczona. Tak, to przejdzie.

Wstać. Podziękować. Pożegnać się. Wyjść

mijając w sieni kolejnych turystów.

 

W: “Sto Pociech” (1967)

 

Ilustração para “Chapeuzinho Vermelho”

(Karl Offterdinger: ilustrador alemão)

 

Pietà

 

Na cidadezinha onde nasceu o herói,

olhar o monumento, elogiar o tamanho,

enxotar duas galinhas da soleira do museu deserto,

descobrir onde mora a mãe,

bater, empurrar a porta rangente.

Tem porte ereto, cabelo liso, olhar claro.

Dizer que se veio da Polônia.

Cumprimentar. Perguntar com voz alta e clara.

Sim, amava-o muito. Sim, sempre foi assim.

Sim, estava então rente ao muro da prisão.

Sim, ouviu a salva de tiros.

Lamentar não ter trazido um gravador

e uma filmadora. Sim, conhece esses aparelhos.

Leu na rádio a sua última carta.

Cantou na TV velhas canções de ninar.

Uma vez até atuou num filme, em lágrimas,

devido aos refletores. Sim, a lembrança a comove.

Sim, está um pouco cansada. Sim, vai passar.

Levantar. Agradecer. Se despedir. Sair

cruzando com os próximos turistas no saguão.

 

Em: “Muito Divertido” (1967)

 

Referência:

 

SZYMBORSKA, Wisława. Pietà / Pietà. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Um amor feliz. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2016. Em polonês: p. 126; em português: p. 127.

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