Szymborska, tomando a
representação da Virgem Maria segurando o corpo de Cristo depois da crucificação,
emprega-a como metáfora para contrastar a imagem de veneração e sacrifício com
a da trivialidade e a falta de profundidade com que se trata a memória dos heróis
contemporâneos, idealizando-os ou simplificando-os, para, logo após, relegá-los
a anedotas superficiais, perdendo de vista o verdadeiro legado que deixaram.
A poetisa polonesa
bem retrata a distância entre a realidade a que esteve exposto o herói e a
maneira como é percebido pelos demais, em particular pelos turistas que o
idolatram, longe de captarem a essência maior de uma vida extraordinária. Por
outro lado, a partir das percepções da mãe do herói, em íntima conexão com o
filho, pode-se perceber, ainda que pela via do sobredito contraste, a relevância
da perda e da memória em relação àqueles que foram silenciados pela violência,
fuzilados em seus ideais de justiça.
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
Pietà
W miasteczku, gdzie
urodził się bohater,
obejrzeć pomnik,
pochwalić, że duży,
spłoszyć dwie kury z
progu pustego muzeum,
dowiedzieć się, gdzie mieszka
matka,
zapukać, pchnąć skrzypiące drzwi.
Trzyma się prosto, czesze
gładko, patrzy jasno.
Powiedzieć, że się przyjechało z Polski.
Pozdrowić. Pytać głośno i wyraźnie.
Tak, bardzo go
kochała. Tak, zawsze był taki.
Tak, stała wtedy pod
murem więzienia.
Tak, słyszała tę salwę.
Żałować, że nie wzieło się magnetofonu
i aparatu filmowego.
Tak, zna te przyrządy.
W radiu czytała jego
list ostatni.
W telewizji śpiewała stare kołysanki.
Raz nawet
przedstawiała w kinie, aż do łez
wpatrzona w jupitery.
Tak, wzrusza ją pamięć.
Tak, trochę jest zmęczona. Tak, to
przejdzie.
Wstać. Podziękować. Pożegnać się. Wyjść
mijając w sieni kolejnych
turystów.
W: “Sto Pociech”
(1967)
Ilustração para “Chapeuzinho
Vermelho”
(Karl Offterdinger:
ilustrador alemão)
Pietà
Na cidadezinha onde
nasceu o herói,
olhar o monumento,
elogiar o tamanho,
enxotar duas galinhas
da soleira do museu deserto,
descobrir onde mora a
mãe,
bater, empurrar a
porta rangente.
Tem porte ereto,
cabelo liso, olhar claro.
Dizer que se veio da
Polônia.
Cumprimentar.
Perguntar com voz alta e clara.
Sim, amava-o muito.
Sim, sempre foi assim.
Sim, estava então
rente ao muro da prisão.
Sim, ouviu a salva de
tiros.
Lamentar não ter
trazido um gravador
e uma filmadora. Sim,
conhece esses aparelhos.
Leu na rádio a sua
última carta.
Cantou na TV velhas
canções de ninar.
Uma vez até atuou num
filme, em lágrimas,
devido aos
refletores. Sim, a lembrança a comove.
Sim, está um pouco
cansada. Sim, vai passar.
Levantar. Agradecer.
Se despedir. Sair
cruzando com os
próximos turistas no saguão.
Em: “Muito Divertido”
(1967)
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. Pietà / Pietà. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Um amor feliz. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. 1. ed. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2016. Em polonês: p. 126; em português: p. 127.
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