Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 15 de dezembro de 2024

Jacob Bronowski - Mais Rápida que a Luz

No centro das festividades do Natal encontra-se o mistério maior da criação, esse poder entrelaçado às forças da escuridão, a agirem com frieza absoluta com o intento de desvelar os segredos do processo de mudança, de nascimento e de crescimento, o qual, por sua vez, flui bem mais rápido do que a luz, dada a urgência do universo em se expandir, para firmar a sua vasta e exuberante rede de existência.

 

Compreender a resolução que desencadeia a explosão deste universo, dessa amplitude cósmica onde a humanidade é bem um inexpressivo contingente, faz-nos mais conscientes dos potenciais limitados de nosso próprio poder de criação, muito longe do engenho que se manifesta, v.g., num útero generante ou num simples átomo a pipocar em adventos estelares.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jacob Bronowski

(1908-1974)

 

Faster Than Light

 

Faster than light and cold as absolute,

The edge of darkness races in pursuit

Of this expanding leaf, this Christmas tree

Of veins in which I hold the galaxy.

It is my hand, from which there streams and rips

The cosmic shift, red to the fingertips,

And what the flying shadow hunts is me.

 

Some astral bang, some primum mobile

Rocketed both of us, the headlong Bear

And me, into the incandescent air.

The motion that we share entails it all:

The virgin birth, the carol tune, the tall

Luminous star that prophesies – although

Its only secret is that children grow.

 

Faster than night and cold as Helium II,

The edge of shadow races to undo

The secret of creation, the abrupt

Choice of a womb or atom to erupt,

And what the flying darkness hunts is you.

 

In: “The Imaginative Mind in Science” (1978)

 

Árvore de Natal

(Valérie Pirlot: artista belga)

 

Mais Rápida que a Luz

 

Mais rápida que a luz, e absolutamente fria,

A lâmina da treva persegue

Esta folha que se expande, nossa árvore natalina,

Com veias que sustentam a galáxia.

Na minha mão, brota e escorre dos dedos

O desvio cósmico, unhas tingidas de carmim:

Essa sombra voejante me persegue.

 

Um certo impulso astral, um primum mobile

Lançou-nos, ao grande Urso e a mim,

No espaço incandescente.

Tudo é explicado pelo nosso movimento:

O nascimento da Virgem, a canção de Natal,

O esplendor da profecia da estrela luminosa cujo

Único segredo é este: as crianças nascem.

 

Mas rápida que a noite, fria como o Hélio II,

A lâmina da treva vai desfazer

O segredo da Criação, a escolha abrupta

Entre o ventre fértil e o átomo que explode.

E o que busca a treva voejante é você.

 

Em: “A Imaginação na Ciência” (1978)

 

Referência:

 

BRONOWSKI, Jacob. Faster than light / Mais rápida que a luz. Tradução de Sérgio Bath. In: __________. O olho visionário: ensaios sobre arte, literatura e ciência. Seleção de textos por Piero E. Ariotti e Rita Bronowski. Brasília, DF: Editora da UnB, 1998. Em inglês: p. 52; em português: p. 52-53.

 

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