Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Ivan Junqueira - Natal, uma elegia

Junqueira, neste poema aberto a múltiplas leituras ou interpretações, explora a complexidade emocional da temporada natalina, mesclando elementos de celebração, mitologia e perda, para evocar a memória de um momento específico e marcante em sua infância, dividido com um amigo ou familiar que já não está presente.

 

Premonição e agonia, suscitadas pelos Magos entre “migalhas de martírio”, são os componentes que contrastam com o ambiente festivo, ao amparo de uma árvore adornada a rigor para a quadra solene. Mais ao fundo, nada obstante, uma figura morre na cruz, o que dá o tom necessário para justificar a presença da palavra “elegia” no título do poema.

 

J.A.R. – H.C.

 

Ivan Junqueira

(1934-2014)

 

Natal, uma elegia

 

Brincávamos os dois.

Era dezembro. E havia

no ar algo de festa,

de prenúncio e de agonia.

Era dezembro. Os bichos

do presepe já o sabiam

e os Magos, ao invés

de mirra, nos traziam

migalhas de martírio.

A árvore era bela

e de seu vértice pendiam

elfos, gnomos, querubins

– todo esse elenco fugidio

de mito e fantasia.

(Ao fundo alguém morria

em vão num crucifixo.)

Era dezembro. Chovia.

Estavas de partida. E nós,

nós que brincávamos sozinhos,

somente nós (quanto sigilo!)

de tudo então sabíamos.

Depois é que se ouviram

o som das ladainhas,

o sussurro dos círios

e as súplicas da missa

dita de sétimo dia.

 

Em: “O Grifo” (1983-1986)

 

Crianças ao Redor da Árvore de Natal

(Leopold G. von Kalckreuth: pintor alemão)

 

Referência:

 

JUNQUEIRA, Ivan. Natal, uma elegia. In: __________. Poemas reunidos. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1999. p. 159.

 

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