Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Anthony Hecht - Iluminação

Centrado no tema da iluminação, tanto em sentido literal quanto – e principalmente – espiritual, este poema de Hecht alude aos anjos, símbolos que consigo trazem a luz solar do Éden, um cenário de perfeição e de harmonia de onde mana a fonte de beleza, sabedoria e esperança, capazes de transmutar a escuridão e trazer vida nova.

 

O poeta norte-americano emprega uma suntuosa paleta de metáforas e referências simbólicas para entrelaçar elementos religiosos, naturalísticos e artísticos: numa atmosfera mística, surge o recém-nascido envolto em manto de negror, tal como os brotos dos crocos que lutam para emergir da neve que os rodeia, descortinando o roteiro capaz de nos trasladar do meramente terrenal e mundano ao celestial e divino, renovando-nos ainda que sob as condições mais adversas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Anthony Hecht

(1923-2004)

 

Illumination

 

Ground lapis for the sky, and scrolls of gold,

Before which shepherds kneel, gazing aloft

At visiting angels clothed in egg-yolk gowns,

Celestial tinctures smuggled from the East,

From sunlit Eden, the palmed and plotted banks

Of sun-tanned Aden. Brought home in fragile grails,

Planted in England, rising at Eastertide,

Their petals cup stamens of topaz dust,

The powdery stuff of cooks and cosmeticians.

But to the camel’s-hair tip of the finest brush

Of Brother Anselm, it is the light of dawn,

Gilding the hems, the sleeves, the fluted pleats

Of the antiphonal archangelic choirs

Singing their melismatic pax in terrain.

The child lies cribbed below, in bestial dark,

Pale as the tiny tips of crocuses

That will find their way to the light through drifts of snow.

 

In: “The Darkness and the Light” (2001)

 

A Sagrada Família

(Rembrandt: pintor holandês)

 

Iluminação

 

Lápis-lazúli pulverizado pelo céu e volutas de ouro,

Ante os quais os pastores se ajoelham, mirando no alto

Os anjos visitantes enroupados com túnicas vitelinas,

Tinturas celestiais contrabandeadas do Oriente,

Do ensolarado Éden, das orlas projetadas com palmeiras

Do adusto Áden ao sol. Trazidos a casa em frágeis cálices,

Plantados em Inglaterra, brotando ao tempo da Páscoa,

Suas pétalas guarnecem estames de topázio granulado,

A matéria pulverulenta de cozinheiros e cosmetólogos.

Mas pela ponta de pelo de camelo do mais fino pincel

Do Irmão Anselmo, ela se torna a luz do amanhecer,

Dourando os debruns, as mangas, as pregas estriadas

Dos coros arcangélicos e antifonais

Que entoam a sua melismática pax in terrain.

A criança jaz embaixo no berço, numa ominosa escuridão,

Pálida como as diminutas pontas dos crocos

Que entre montes de neve hão de se orientar até a luz.

 

Em: “A Escuridão e a Luz” (2001)

 

Referência:

 

HECHT, Anthony. Illumination. In: __________. Collected poems of Anthony Hecht: including late and uncollected work. 1st ed. New York, NY: Alfred A. Knopf, 2023. p. 470.

  

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