O falante põe-se a lucubrar
sobre as consequências de nossas ações e como estas se relacionam com a
percepção de justiça e equidade neste mundo, cheio de contradições e de
experiências por vezes cruciantes: temos lá nossos feitos que nos perseguem como
uma horda belicosa, alguns dos quais nos deixam emboscados pelo passado, com
uma sensação de inquietude e vulnerabilidade.
A pressão social e a
necessidade de conformarmo-nos às expectativas externas, pode levar a alguma
repressão de nossa própria natureza, expondo-nos, em contrapartida, a eventuais
coações injustificadas e violências
coletivas: a aceitação de uma realidade imposta desde fora, em antinomia com a
própria percepção de justiça, só tem sentido quando se toma o jogo do qual
participamos como encerrando um princípio fundamental dessa mesma justiça – um “código”
de justiça –, a despeito do que ele possa conter de arbitrário ou de abusivo.
J.A.R. – H.C.
William Meredith
(1919-2007)
Consequences: my acts
(III)
The acts of my life
swarm down the street like Puerto Rican kids,
Foreign but small
and, except for one, unknived.
They do no harm
though their voices slash like reeds;
All except one they
have evidently been loved.
And down the hill
where I’ve planted spruce and red pine
In a gang of spiked
shadows they slouch at night.
I am reasonably
brave. I have been, except on one occasion,
Myself: it is no good
trying to be what you are not.
We live among gangs
who seem to have no stake
In what we’re trying
to do, no sense of property or race,
Yet if you speak with
authority they will halt and break
And sullenly, one by
one, show you a local face.
I dreamt once that
they caught me and, holding me down,
Burned my genitals
with gasoline;
In my stupid terror I
was telling them names
So my manhood kept
and the rest went up in flames.
‘Now, say the world
is a fair place,’ the biggest one said,
And because there was
no face worse than my own there
I said it and got up.
Quite a lot of me is charred.
By our code it is
fair. We play fair. The world is fair.
Sem Título
(Norman Lewis: pintor
norte-americano)
As consequências: meus
atos (III)
Os atos da minha vida
pululam pela rua como garotos porto-riquenhos,
Estrangeiros, mas miúdos,
e, exceto um, sem punhais.
Não fazem mal algum,
embora suas vozes cortem como juncos;
Todos, exceto um, foram
evidentemente amados.
E colina abaixo, onde
plantei abetos e pinheiros vermelhos,
Num bando de sombras
pontiagudas, eles se espreguiçam à noite.
Sou razoavelmente
corajoso. Salvo numa ocasião, fui sempre
Eu mesmo: não vale a pena
tentar ser o que não se é.
Vivemos entre gangues
que parecem não ter nenhum interesse
No que estamos
tentando fazer, sem senso de pertencimento ou raça;
No entanto, se
falarmos com autoridade, elas vão parar e partir
E, mal-humoradas, uma
a uma, nos mostrarão um rosto local.
Sonhei certa vez que
me apanharam e, sujeitando-me,
Queimaram-me os
genitais com gasolina;
Em meu terror
estúpido, revelei-lhes alguns nomes
Para que minha
virilidade se mantivesse e o resto ardesse em chamas.
“Agora, afirme que o
mundo é um lugar justo”, disse o maior deles,
E porque não havia um
rosto pior do que o meu por lá,
Assim o afirmei e me
levantei. Grande parte de mim restou carbonizada.
Pelo nosso código,
isso é justo. Nós jogamos limpo. O mundo é justo.
Referência:
MEREDITH, William.
Consequences - my acts (III). In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book
of contemporary american poetry. 2nd ed. New York,
NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 114-115.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário