Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

William Meredith - As consequências: meus atos (III)

O falante põe-se a lucubrar sobre as consequências de nossas ações e como estas se relacionam com a percepção de justiça e equidade neste mundo, cheio de contradições e de experiências por vezes cruciantes: temos lá nossos feitos que nos perseguem como uma horda belicosa, alguns dos quais nos deixam emboscados pelo passado, com uma sensação de inquietude e vulnerabilidade.

 

A pressão social e a necessidade de conformarmo-nos às expectativas externas, pode levar a alguma repressão de nossa própria natureza, expondo-nos, em contrapartida, a eventuais coações injustificadas e violências coletivas: a aceitação de uma realidade imposta desde fora, em antinomia com a própria percepção de justiça, só tem sentido quando se toma o jogo do qual participamos como encerrando um princípio fundamental dessa mesma justiça – um “código” de justiça –, a despeito do que ele possa conter de arbitrário ou de abusivo.

 

J.A.R. – H.C.

 

William Meredith

(1919-2007)

 

Consequences: my acts (III)

 

The acts of my life swarm down the street like Puerto Rican kids,

Foreign but small and, except for one, unknived.

They do no harm though their voices slash like reeds;

All except one they have evidently been loved.

 

And down the hill where I’ve planted spruce and red pine

In a gang of spiked shadows they slouch at night.

I am reasonably brave. I have been, except on one occasion,

Myself: it is no good trying to be what you are not.

 

We live among gangs who seem to have no stake

In what we’re trying to do, no sense of property or race,

Yet if you speak with authority they will halt and break

And sullenly, one by one, show you a local face.

 

I dreamt once that they caught me and, holding me down,

Burned my genitals with gasoline;

In my stupid terror I was telling them names

So my manhood kept and the rest went up in flames.

 

‘Now, say the world is a fair place,’ the biggest one said,

And because there was no face worse than my own there

I said it and got up. Quite a lot of me is charred.

By our code it is fair. We play fair. The world is fair.

 

Sem Título

(Norman Lewis: pintor norte-americano)

 

As consequências: meus atos (III)

 

Os atos da minha vida pululam pela rua como garotos porto-riquenhos,

Estrangeiros, mas miúdos, e, exceto um, sem punhais.

Não fazem mal algum, embora suas vozes cortem como juncos;

Todos, exceto um, foram evidentemente amados.

 

E colina abaixo, onde plantei abetos e pinheiros vermelhos,

Num bando de sombras pontiagudas, eles se espreguiçam à noite.

Sou razoavelmente corajoso. Salvo numa ocasião, fui sempre

Eu mesmo: não vale a pena tentar ser o que não se é.

 

Vivemos entre gangues que parecem não ter nenhum interesse

No que estamos tentando fazer, sem senso de pertencimento ou raça;

No entanto, se falarmos com autoridade, elas vão parar e partir

E, mal-humoradas, uma a uma, nos mostrarão um rosto local.

 

Sonhei certa vez que me apanharam e, sujeitando-me,

Queimaram-me os genitais com gasolina;

Em meu terror estúpido, revelei-lhes alguns nomes

Para que minha virilidade se mantivesse e o resto ardesse em chamas.

 

“Agora, afirme que o mundo é um lugar justo”, disse o maior deles,

E porque não havia um rosto pior do que o meu por lá,

Assim o afirmei e me levantei. Grande parte de mim restou carbonizada.

Pelo nosso código, isso é justo. Nós jogamos limpo. O mundo é justo.

 

Referência:

 

MEREDITH, William. Consequences - my acts (III). In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 114-115.

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