Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 28 de dezembro de 2024

Carlos Bousoño - A luz de Deus

A noite, essa experiência de escuridão e mistério que se vivencia quando a claridade do dia se desvanece, é também o intercurso durante o qual podemos “apalpar” a morte e “pressentir” um sonho mais elevado que a própria vida: é no meio de um desmedido negror que a luz divina se manifesta e se nos revela, fundindo-se com a alma dos simples mortais.

 

Deus feito luz cobre os céus e a alma já não existe nessa metáfora tanto mais válida para o espírito humano do que para a vastidão do mundo exterior, em sua realidade física: iluminados pela presença do Eterno faremos de nosso firmamento um zimbório estrelado de onde poderemos contemplar a eternidade, entrando em harmonia com toda a gente e a natureza em nosso entorno.

 

J.A.R. – H.C.

 

Carlos Bousoño

(1923-2015)

 

La luz de Dios

 

Hace falta la noche. Es necesaria

la noche honda. Entre la sombra ambigua

palpar la muerte, y presentir un sueño

más alto que la vida.

 

Mucha noche hace falta en las estrelas,

pero más en el alma se precisa.

Mucha noche hace falta

que caiga grave en su honda mina.

 

Tu aparición entonces sobre el cielo

del alma en vasta noche oscurecida,

allá en el más profundo firmamento,

nos alza y califica.

 

Tu luz desciende clara.

El Cielo llueve. Mójese la vida.

Toda mi alma en el amor se empapa

donde empieza la luz, donde termina.

 

Oh alma traspasada,

bebes luz que descende. Calla. Mira.

Ya te adelgazas, y eres sólo viento.

Y menos, y eres brisa.

 

Dios en la brisa.  Puros cielos suaves.

No existe el mundo. Espacio sólo brilla.

El alma aspira, llega, toca, gime

de amor, y se retira.

 

Dios hecho luz cubre los cielos.

Tú ya no existes, alma mía.

Sólo el espacio iluminado.

Sólo la luz se extiende límpida.

 

En: “Subida al amor” (1945)

 

Luz Divina

(Patrícia K. Bollinger: artista norte-americana)

 

A luz de Deus

 

Faz falta a noite. Necessária é

a noite profunda. Entre a sombra ambígua

apalpar a morte, e pressentir um sonho

mais alto que a vida.

 

Muita noite faz falta nas estrelas,

mas, na alma, dela se precisa bem mais.

Muita noite faz falta para se cair

a sério em sua mina profunda.

 

Tua aparição, então, sobre o céu

da alma, em vasta e escurecida noite,

lá no mais profundo firmamento,

nos eleva e dignifica.

 

A tua luz desce clara.

O céu chove. Que a vida se molhe.

Toda a minh’alma no amor se encharca

onde começa a luz, onde ela termina.

 

Ó alma trespassada,

bebes a luz que desce. Cala. Olha.

Já te emacias, e és só vento.

Menos ainda, és brisa.

 

Deus na brisa. Puros e suaves céus.

Não há o mundo. O espaço só brilha.

A alma aspira, chega, toca, geme

de amor e se retira.

 

Deus feito luz cobre os céus.

Tu já não existes, alma minha.

Apenas o espaço iluminado.

Límpida, só a luz a se propagar.

 

Em: “Subida ao amor” (1945)

 

Referência:

 

BOUSOÑO, Carlos. La luz de Dios. In: __________. Poesía – Antologia: 1945-1993. Edición de Alejandro Duque Amusco. 2. ed. Madrid, ES: Espasa Calpe, 1995. p. 77-78. (Colección ‘Austral’; v. 313)

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário