A noite, essa
experiência de escuridão e mistério que se vivencia quando a claridade do dia
se desvanece, é também o intercurso durante o qual podemos “apalpar” a morte e “pressentir”
um sonho mais elevado que a própria vida: é no meio de um desmedido negror que a
luz divina se manifesta e se nos revela, fundindo-se com a alma dos simples mortais.
Deus feito luz cobre
os céus e a alma já não existe nessa metáfora tanto mais válida para o espírito
humano do que para a vastidão do mundo exterior, em sua realidade física:
iluminados pela presença do Eterno faremos de nosso firmamento um zimbório
estrelado de onde poderemos contemplar a eternidade, entrando em harmonia com
toda a gente e a natureza em nosso entorno.
J.A.R. – H.C.
Carlos Bousoño
(1923-2015)
La luz de Dios
Hace falta la noche.
Es necesaria
la noche honda. Entre
la sombra ambigua
palpar la muerte, y
presentir un sueño
más alto que la vida.
Mucha noche hace
falta en las estrelas,
pero más en el alma
se precisa.
Mucha noche hace
falta
que caiga grave en su
honda mina.
Tu aparición entonces
sobre el cielo
del alma en vasta
noche oscurecida,
allá en el más
profundo firmamento,
nos alza y califica.
Tu luz desciende
clara.
El Cielo llueve.
Mójese la vida.
Toda mi alma en el
amor se empapa
donde empieza la luz,
donde termina.
Oh alma traspasada,
bebes luz que descende.
Calla. Mira.
Ya te adelgazas, y
eres sólo viento.
Y menos, y eres
brisa.
Dios en la
brisa. Puros cielos suaves.
No existe el mundo.
Espacio sólo brilla.
El alma aspira, llega,
toca, gime
de amor, y se retira.
Dios hecho luz cubre
los cielos.
Tú ya no existes,
alma mía.
Sólo el espacio iluminado.
Sólo la luz se
extiende límpida.
En: “Subida al amor”
(1945)
Luz Divina
(Patrícia K.
Bollinger: artista norte-americana)
A luz de Deus
Faz falta a noite. Necessária
é
a noite profunda.
Entre a sombra ambígua
apalpar a morte, e
pressentir um sonho
mais alto que a vida.
Muita noite faz falta
nas estrelas,
mas, na alma, dela se
precisa bem mais.
Muita noite faz falta
para se cair
a sério em sua mina profunda.
Tua aparição, então,
sobre o céu
da alma, em vasta e
escurecida noite,
lá no mais profundo
firmamento,
nos eleva e dignifica.
A tua luz desce
clara.
O céu chove. Que a
vida se molhe.
Toda a minh’alma no
amor se encharca
onde começa a luz, onde
ela termina.
Ó alma trespassada,
bebes a luz que
desce. Cala. Olha.
Já te emacias, e és
só vento.
Menos ainda, és
brisa.
Deus na brisa. Puros
e suaves céus.
Não há o mundo. O
espaço só brilha.
A alma aspira, chega,
toca, geme
de amor e se retira.
Deus feito luz cobre
os céus.
Tu já não existes,
alma minha.
Apenas o espaço
iluminado.
Límpida, só a luz a
se propagar.
Em: “Subida ao amor”
(1945)
Referência:
BOUSOÑO, Carlos. La
luz de Dios. In: __________. Poesía – Antologia: 1945-1993. Edición de
Alejandro Duque Amusco. 2. ed. Madrid, ES: Espasa Calpe, 1995. p. 77-78.
(Colección ‘Austral’; v. 313)
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