Impregnado por uma
sensação de antecipação e de expectativa ante um futuro de eventos impredizíveis,
estes versos de Howes estabelecem um contraste entre o presente e o futuro, por
efeito de uma viagem a formular inquirições sobre a natureza do tempo, o
distanciamento e a conexão humana, tanto física quanto emocional.
As imagens empregadas
pela poetisa norte-americana evocam tanto as irrefreáveis transições entre os
dias e as noites, quanto as transformações pelas quais passamos nessa jornada
que é a vida – esse “parque de diversões” com suas múltiplas atrações, seus
altos e baixos, seus constantes apelos por experiências tantas vezes frívolas e,
por isso mesmo, incapazes de se equiparar àqueles momentos bem mais cálidos, “como
quando estamos juntos”.
J.A.R. – H.C.
Barbara Howes
(1914-1996)
A Short Way by Air
Between now and the
moment when you touch
Down at the end of
your trip, so much
Will happen. Before
you lies
A legendary
fairground, whose size
Measures the days
ahead; a carrousel
Swings round and
round, its bright mounts fall
And rise as did our
breathing – carrying
The scenes and
persons of your travelling,
Each for a moment
outlined legibly
Against a mulberry
sky
That fades to dawn or
ripens into night.
The light
Brushes tower after
tower, or swaying
Into the past a
palace topples, as round again
The equestrian hours
throng... I look far out
Over what lies before
me – a prospect
Of abscence, whose
extent I shall
Count over; the
everyday is genial
Enough, but there was
never such
Warmth, for me, as
when we are in touch.
Carrossel no Central
Park
(Nicolai Cikovsky:
pintor russo-americano)
Um Curto Caminho pelo
Ar
Entre o momento presente
e aquele em que atingires
O fim de tua viagem,
tanta coisa
Ocorrerá. Diante de
ti jaz
Uma região encantada,
cuja extensão
Tem a medida dos dias
a virem; um carrossel
Gira sempre e sempre,
e seus cavalinhos brilhantes descem
E sobem como nossa
respiração – transportando
As cenas e pessoas de
tua viagem,
Cada uma delas
legivelmente delineada
Contra um céu de
amoreiras
Que definha em
madrugada ou amadurece em noite.
A luz
Varre torre após torre,
ou oscilando
No passado um palácio
desmorona-se, quando de novo
As horas equestres
acumulam-se... Olho à distância,
Por sobre o que jaz à
minha frente – uma perspectiva
De ausência, cuja
extensão
Medirei; o dia-a-dia
é bastante propício,
Mas nunca houve tanta
Calidez, para mim,
como quando estamos juntos.
Referência:
HOWES, Barbara. A short
way by air / Um curto caminho pelo ar. Tradução de Marcos Santarrita, inserta
no ensaio “Uma Visão da Poesia”, de Barbara Howes. In: NEMEROV, Howard
(Coord.). Poesia como criação. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de
Janeiro, GB: Edições GRD, 1968. Em inglês: p. 89; em português: p. 94.
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