Elizabeth Jennings - Sozinho no Natal

Jennings nos oferece uma reflexão incisiva sobre o paradoxo da solidão e da desconexão em meio à temporada festiva do Natal, instando-nos a considerar a importância de verdadeiras empatia e atenção pelos que quotidianamente estão em nosso entorno, mais além, por conseguinte, das festividades que, apenas em aparência, têm algum um desígnio unificador.

 

Submersos em nossos próprios interesses e egoísmos, passamos ao largo dos necessitados ou dos que sofrem sob o abandono, fazendo letra morta dos apelos cristãos por solidariedade, compaixão e empatia: somos dominados pela indiferença, o maior de todos os pecados, e essa atitude solapa o que nos resta de humanidade em tempos tão devotados à cizânia e à divisão.

 

J.A.R. – H.C.

 

Elizabeth Jennings

(1926-2001)

 

Alone Over Christmas

 

A serious night of calm it is. The moon

More than half. How warm it is for Winter.

Christmas will he on us very soon.

It is the time of Advent Calendars

And I sit down alone

 

Happy and full of friendship but I think

Of a young man who at the weekend stood

Calling ‘Everyone’s walking past.’ Some brink

Of lonely terror was near him. It’s no good

Pretending every link

 

Between each human being and another

At Christmas suddenly grows firm and solid.

This lonely man is everybody’s brother

And we do walk past in selfish mood

Not bothering to bother.

 

Um Natal a sós

(Oskar Freiwirth-Lützow: pintor alemão)

 

Sozinho no Natal

 

É uma noite calma e profunda. A lua a

Mais da metade. Quanto calor para um inverno.

O Natal nos chegará muito em breve.

É a época dos Calendários do Advento

E me sento sozinha,

 

Feliz e repleta de boa vontade, mas logo penso

Num jovem que no final de semana esteve

A bradar: “Todo mundo segue adiante”. Alguma borda

De um solitário terror se lhe acercava. É enganoso

Fingir que todos os vínculos

 

Entre um ser humano e outro

De repente se tornem firmes e sólidos no Natal.

Esse homem solitário é o irmão de toda a gente

E passamos ao largo por ele com uma índole egoísta,

Sem importunarmo-nos em nos sentir desconfortáveis.

 

Referência:

 

JENNINGS, Elizabeth. Alone over Christmas. In: __________. Praises. 1st ed. Manchester, EN: Carcanet, 1998. p. 19.