Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Robert Bridges - Noel: Véspera de Natal, 1913

Bridges, fundindo as comuns celebrações, havidas ao longo desta quadra, com uma experiência interior a transcender o tempo e os fragores do mundo, incute-nos uma reverente mensagem de paz e de esperança, ao tempo que corrobora o amplo legado histórico da tradição natalina em solo inglês, tudo para reforçar o papel perdurável da fé cristã na cultura de seu povo.

 

Como o leitor pode perceber, a forma como elaborada a sequência dos versos redunda indiferente em relação ao marco temporal em que se dão as conjunturas mencionadas no discurso, isto é, se se trata do momento presente ou se do tempo de então: é bem possível que o poeta tenha recorrido a tal efeito para ratificar a ideia de que a mensagem de Cristo está para além dos limites convencionais do tempo, sendo uma seta que se projeta até a eternidade.

 

J.A.R. – H.C.

 

Robert Bridges

(1844-1930)

 

Noel: Christmas Eve, 1913

 

Pax hominibus bonae voluntatis

 

A frosty Christmas Eve

when the stars were shining

Fared I forth alone

where westward falls the hill,

And from many a village

in the water’d valley

Distant music reach’d me

peals of bells aringing:

The constellated sounds

ran sprinkling on earth’s floor

As the dark vault above

with stars was spangled o’er.

 

Then sped my thoughts to keep

that first Christmas of all

When the shepherds watching

by their folds ere the dawn

Heard music in the fields

and marveling could not tell

Whether it were angels

or the bright stars singing.

 

Now blessed be the tow’rs

that crown England so fair

That stand up strong in prayer

unto God for our souls

Blessed be their founders

(said I) an’ our country folk

Who are ringing for Christ

in the belfries to-night

With arms lifted to clutch

the rattling ropes that race

Into the dark above

and the mad romping din.

 

But to me heard afar

it was starry music

Angels’ song, comforting

as the comfort of Christ

When he spake tenderly

to his sorrowful flock:

The old words came to me

by the riches of time

Mellow’d and transfigured

as I stood on the hill

Heark’ning in the aspect

of th’ eternal silence.

 

Le Coin: Meu Estúdio Com

Uma Árvore de Natal

(Francis F. M. Cook: artista inglês)

 

Noel: Véspera de Natal, 1913

 

Pax hominibus bonae voluntatis

 

Numa gélida véspera de Natal,

iluminada por miríades de estrelas,

Encaminhei-me sozinho

até onde a colina despenha a oeste,

E das muitas aldeias

de irrigados vales

Chegavam-me músicas distantes,

tangidas por badalos de sinos:

Os sons constelados

corriam a salpicar a superfície da terra,

Enquanto a escura abóbada celeste

mantinha-se coberta de estrelas.

 

Enquanto minha mente apressava-se em reter

aquele primeiro dentre todos os Natais,

Sem demora, os pastores que velavam

junto a seus redis antes da aurora,

Passaram a ouvir música pelos campos

e, maravilhados, não sabiam

Se acaso eram anjos

ou as brilhantes estrelas que cantavam.

 

Benditas sejam, no presente, as torres

que coroam a tão bela Inglaterra,

Que se erguem fortes em louvor

a Deus por nossas almas,

Benditos sejam seus fundadores

(eu o disse) e nossa gente do campo,

Que esta noite anuncia o Cristo

nos campanários,

Com os braços levantados para segurar

as cordas rangentes que correm

Pela escuridão acima

em meio ao louco e traquinante bulício.

 

Mas para mim, que ouvia a distância,

tinha por estrelada a música,

Canto de anjos, reconfortante

como o alento de Cristo,

Quando em ternas prédicas

ao seu rebanho aflito:

As velhas palavras vieram a mim

pelas fortunas do tempo,

Suavizadas e transfiguradas,

enquanto à escuta estava,

Frente à colina, sob a aparência

de um eterno silêncio.

 

Referência:

 

BRIDGES, Robert. Noel: Christmas Eve, 1913. In: HOLLANDER, John; McCLATCHY, J. D. (Sel. & Ed.). Christmas poems. New York, NY: Alfred A. Knopf, 1999. p. 31-32. (‘Everyman’s Library: Pocket Poets’)

  

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