Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Bandeira Tribuzi - Natal terreno

O Natal, essa época de celebração e de alegria, é também uma quadra de recordações em que se busca retomar a chama do amor, tornando-a mais vívida em sua pureza e alento: em seu cenário íntimo e espiritual à volta da árvore de natal, o falante revigora a metáfora do renascer, do se manter vivo o lume da paixão para dar amplos significados à existência.

 

Na ambientação natalina há sempre algo de mágico, algo que se sustenta ao som de sinos e de violinos, numa atmosfera de paz e de regozijo, permitindo que se tenham belas e intensas experiências compartilhadas, ao tempo que se reforça a reciprocidade do amor e da felicidade entre aqueles que desejamos estar sempre bem mais perto de nós.

 

J.A.R. – H.C.

 

Bandeira Tribuzi

(1927-1977)

 

Natal terreno

 

Eis que dentro de mim, como sonhada,

a árvore de natal se transfigura

e a noite se apodera, doce e pura,

da região do ser a mais fechada.

 

Lá onde é amargura a madrugada

surge esta deslumbrada tessitura

– tão clara que amanhece a noite pura,

tão pura que só é porque sonhada!

 

Eis que, dentro de mim, tangem os sinos

e bailam suavíssimos violinos

em torno à bem nascida e clara rosa

cujo nome é Amor. E assim regressa

a árvore de natal de que se tece a

doce noite de amor, silenciosa.

 

Como quando, senhora, (não recordas?)

do violão de amor as doces cordas

estavam de tal modo aparelhadas

 

que as notas pareciam soluçadas

por algum brando rouxinol de amor

a quem tantas venturas fossem dadas

 

que a voz fosse maior que o próprio amor.

Ó como quando a rosa da alegria

para nós desvendou a sua cor

 

assim o teu sorriso me sorria!

Que hoje a vida retoma à fonte pura

e, ao repetir – Eu te amo!, na doçura

 

da noite que se fez para quem ama,

tu reconheças o que se escondia

na voz que hoje, de novo, por ti chama.

 

Um casal com seu cão

(Richard Macneil: artista inglês)

 

Referência:

 

TRIBUZI, Bandeira. Natal terreno. In: __________. Poesias completas. Prefácio de Josué Montello. Rio de Janeiro, RJ: Livraria Editora Cátedra; Brasília, DF: Instituto Nacional do Livro, 1979. p. 280-281.

 

 

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