O Natal, essa época
de celebração e de alegria, é também uma quadra de recordações em que se busca retomar
a chama do amor, tornando-a mais vívida em sua pureza e alento: em seu cenário
íntimo e espiritual à volta da árvore de natal, o falante revigora a metáfora
do renascer, do se manter vivo o lume da paixão para dar amplos significados à
existência.
Na ambientação
natalina há sempre algo de mágico, algo que se sustenta ao som de sinos e de
violinos, numa atmosfera de paz e de regozijo, permitindo que se tenham belas e
intensas experiências compartilhadas, ao tempo que se reforça a reciprocidade
do amor e da felicidade entre aqueles que desejamos estar sempre bem mais perto
de nós.
J.A.R. – H.C.
Bandeira Tribuzi
(1927-1977)
Natal terreno
Eis que dentro de
mim, como sonhada,
a árvore de natal se
transfigura
e a noite se apodera,
doce e pura,
da região do ser a
mais fechada.
Lá onde é amargura a
madrugada
surge esta
deslumbrada tessitura
– tão clara que
amanhece a noite pura,
tão pura que só é
porque sonhada!
Eis que, dentro de
mim, tangem os sinos
e bailam suavíssimos
violinos
em torno à bem nascida
e clara rosa
cujo nome é Amor. E
assim regressa
a árvore de natal de
que se tece a
doce noite de amor,
silenciosa.
Como quando, senhora,
(não recordas?)
do violão de amor as
doces cordas
estavam de tal modo
aparelhadas
que as notas pareciam
soluçadas
por algum brando
rouxinol de amor
a quem tantas
venturas fossem dadas
que a voz fosse maior
que o próprio amor.
Ó como quando a rosa
da alegria
para nós desvendou a
sua cor
assim o teu sorriso
me sorria!
Que hoje a vida
retoma à fonte pura
e, ao repetir – Eu te
amo!, na doçura
da noite que se fez
para quem ama,
tu reconheças o que
se escondia
na voz que hoje, de
novo, por ti chama.
Um casal com seu cão
(Richard Macneil:
artista inglês)
Referência:
TRIBUZI, Bandeira.
Natal terreno. In: __________. Poesias completas. Prefácio de Josué
Montello. Rio de Janeiro, RJ: Livraria Editora Cátedra; Brasília, DF: Instituto
Nacional do Livro, 1979. p. 280-281.
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