O falante descreve a
sua experiência ao buscar Deus na natureza e dentro de si mesmo: estabelecendo
uma íntima conexão com a criação divina, entra em unidade com a pradaria, o
bosque e o verão, numa fusão que se predica como de total entrega, mediante a
apreensão dos sentidos, os vestígios dos lanhos d’alma, o autoexame.
Ante um sentimento de
tratar-se de um mero grão de areia frente à imensidade de Deus, o ente lírico
abre sua alma às experiências sensoriais, testemunhando-nos o seu arrebatamento
místico num misto de enlevo e de transfigurações verbais, de pesares e de júbilos,
de calor e de plenitude, em meio ao qual anela por expandir-se espiritualmente.
J.A.R. – H.C.
José María Pemán
(1897-1981)
He entrado en unidad con la pradera:
camino del magnífico, entregado,
desplome de mi ser en lo divino.
He entrado en unidad con ese bosque
que es todo ruiseñor y es todo pena,
como el bosque que llevo en mis entrañas.
He entrado en unidad con el estío:
y sus turbias raíces del pecado
le han servido de tronco a mi azucena.
Me duelen mis fronteras sensuales,
mis vallados humanos, por vecinos
del incendio de Dios y los amores.
Me duelen como deben de dolerles
a los granos de arena las espumas,
como al fondo del mar, la gran turquesa.
Se llega a Dios por todos mis sentidos.
Se llega a Dios por todas mis heridas.
Se llega a Dios mirándome a los ojos.
Por las acequias rojas de mis venas
va la sangre moviendo el gran molino
de una oración enorme y sin palabras.
Se me em quedado anoche, junto al alma,
abierto el portoncillo de la pena:
...y Dios estaba, con el sol primero,
sentado, allí, em las flores.
Estrela de Belém
(Elihu Vedder:
artista norte-americano)
Presença de Deus
Entrei em unidade com
a pradaria:
caminho da magnífica,
subjugada,
fusão do meu ser no
divino.
Entrei em unidade com
esse bosque
que é todo rouxinol e
todo aflição,
como o bosque que
carrego nas entranhas.
Entrei em unidade com
o verão:
e suas turvas raízes
do pecado
serviram de tronco
para o meu lírio.
Doem-me as minhas
lindes sensuais,
minhas sebes humanas,
pois que vizinhas
do fogo de Deus e dos
amores.
Doem-me como devem
doer
as espumas aos grãos
de areia,
como a grande
turquesa ao fundo do mar.
Chega-se a Deus por
todos os meus sentidos.
Chega-se a Deus por
todas as minhas feridas.
Chega-se a Deus
olhando-me nos olhos.
Pelos drenos
vermelhos de minhas veias
vai o sangue a mover
o grande moinho
de uma oração enorme
e sem palavras.
Ontem à noite, junto
à minh’alma,
o portãozinho da
aflição permaneceu aberto:
...e Deus estava, com
o sol primeiro,
sentado, ali, entre
as flores.
Referência:
PEMÁN, José María.
Presencia de Dios. In: SANTIAGO, Miguel de (Introducción y recopilación). Antología
de poesía mística española. 1. ed. Barcelona, ES: Verón Editores, jul. 1998.
p. 196.
Nenhum comentário:
Postar um comentário