Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 29 de dezembro de 2024

José María Pemán - Presença de Deus

O falante descreve a sua experiência ao buscar Deus na natureza e dentro de si mesmo: estabelecendo uma íntima conexão com a criação divina, entra em unidade com a pradaria, o bosque e o verão, numa fusão que se predica como de total entrega, mediante a apreensão dos sentidos, os vestígios dos lanhos d’alma, o autoexame.

 

Ante um sentimento de tratar-se de um mero grão de areia frente à imensidade de Deus, o ente lírico abre sua alma às experiências sensoriais, testemunhando-nos o seu arrebatamento místico num misto de enlevo e de transfigurações verbais, de pesares e de júbilos, de calor e de plenitude, em meio ao qual anela por expandir-se espiritualmente.

 

J.A.R. – H.C.

 

José María Pemán

(1897-1981)

 

Presencia de Dios

 

He entrado en unidad con la pradera:

camino del magnífico, entregado,

desplome de mi ser en lo divino.

 

He entrado en unidad con ese bosque

que es todo ruiseñor y es todo pena,

como el bosque que llevo en mis entrañas.

 

He entrado en unidad con el estío:

y sus turbias raíces del pecado

le han servido de tronco a mi azucena.

 

Me duelen mis fronteras sensuales,

mis vallados humanos, por vecinos

del incendio de Dios y los amores.

 

Me duelen como deben de dolerles

a los granos de arena las espumas,

como al fondo del mar, la gran turquesa.

 

Se llega a Dios por todos mis sentidos.

Se llega a Dios por todas mis heridas.

Se llega a Dios mirándome a los ojos.

 

Por las acequias rojas de mis venas

va la sangre moviendo el gran molino

de una oración enorme y sin palabras.

 

Se me em quedado anoche, junto al alma,

abierto el portoncillo de la pena:

...y Dios estaba, con el sol primero,

sentado, allí, em las flores.

 

Estrela de Belém

(Elihu Vedder: artista norte-americano)

 

Presença de Deus

 

Entrei em unidade com a pradaria:

caminho da magnífica, subjugada,

fusão do meu ser no divino.

 

Entrei em unidade com esse bosque

que é todo rouxinol e todo aflição,

como o bosque que carrego nas entranhas.

 

Entrei em unidade com o verão:

e suas turvas raízes do pecado

serviram de tronco para o meu lírio.

 

Doem-me as minhas lindes sensuais,

minhas sebes humanas, pois que vizinhas

do fogo de Deus e dos amores.

 

Doem-me como devem doer

as espumas aos grãos de areia,

como a grande turquesa ao fundo do mar.

 

Chega-se a Deus por todos os meus sentidos.

Chega-se a Deus por todas as minhas feridas.

Chega-se a Deus olhando-me nos olhos.

 

Pelos drenos vermelhos de minhas veias

vai o sangue a mover o grande moinho

de uma oração enorme e sem palavras.

 

Ontem à noite, junto à minh’alma,

o portãozinho da aflição permaneceu aberto:

...e Deus estava, com o sol primeiro,

sentado, ali, entre as flores.

 

Referência:

 

PEMÁN, José María. Presencia de Dios. In: SANTIAGO, Miguel de (Introducción y recopilación). Antología de poesía mística española. 1. ed. Barcelona, ES: Verón Editores, jul. 1998. p. 196.

  

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