Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Armindo Trevisan - Noite Feliz

Sob a metáfora dos sentidos, a voz lírica busca estabelecer uma relação de intimidade e proximidade com o divino, embora não exatamente – claro está – de ordem física, a despeito de afirmar a sua onipresença por meio do toque, do pensamento e do amor que lhe expressa, numa devoção que se consolida para além de toda a compreensão humana.

 

Na prevalência do espiritual, encurta-se a distância entre o humano e o divino, tornando presença o numinoso na vida de cada um de nós, induzindo-nos a transcendermos o ordinário e o mundano, para que então possamos alcançar um sentimento de beatitude mais conforme às palavras daquele que, há dois milênios, aqui esteve a semear uma mensagem de amor incondicional.

 

J.A.R. – H.C.

 

Armindo Trevisan

(n. 1933)

 

Noite Feliz

 

Embora minhas palavras

não cheguem aos Teus ouvidos

– porque não tens ouvidos;

 

embora minha voz

não penetre o Teu coração

– porque não tens coração;

 

embora eu entregue ao vento

minha dor e alegria

e ele as carregue até às nuvens

– onde não estás;

 

embora de dia e de noite

meus olhos Te queiram ver

– e só vejam uma sombra

de Tua sombra;

 

embora eu Te compare à luz,

e Tua luz apague

o sol e o meu próprio pensamento:

 

Teus ouvidos são meus ouvidos,

Tua voz é minha voz,

e Teus olhos iluminam a escuridão

na qual nasci, na qual vivo, na qual morrerei

 

– tocando-Te onde não podes ser tocado,

pensando-Te onde não podes ser pensado,

amando-Te para ser amado.

 

A Adoração dos Pastores

(Caravaggio: artista italiano)

 

Referência:

 

TREVISAN, Armindo. Noite feliz. In: __________. Nova antologia poética: 1967-2001. Porto Alegre, RS: Sulina, 2001. p. 168.

  

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