Numa original e
personalíssima perspectiva do que seja a Anunciação, a voz lírica se dirige a
uma figura feminina, possivelmente a Virgem Maria, desde a sua distância dir-se-ia
inalcançável, rogando-lhe que se aproxime para atenuar o que ora ela tem de dor
ou de desespero em sua experiência de vida.
Tal pedido revela uma
profunda busca por conexão, a ultrapassar os limites físicos, a bem configurar
uma espécie de renascimento místico, uma fusão espiritual capaz de transcender
as fronteiras do meramente humano, eis que entabulada entre uma figura que, em
aparência, paira fria nas representações escultóricas, e outra que, agônica,
busca a serenidade de seus eternais olhares.
J.A.R. – H.C.
Armindo Trevisan
(n. 1933)
Anunciação
Não te pedirei
que desças ao pé de
mim
em minha agonia.
Pedir-te-ei
que te libertes de
uma estátua,
e caminhes até um
subúrbio
onde te aguardarei
sentado num banco de
praça.
Ali,
estenderás sobre mim
os teus olhos
com fragmentos de pedra.
Suplicarei a Deus
que me faça nascer de
ti.
Ecce Ancilla Domini!
(A Anunciação)
(Dante Gabriel
Rossetti: artista inglês)
Referência:
TREVISAN, Armindo.
Anunciação. In: __________. Nova antologia poética: 1967-2001. Porto
Alegre, RS: Sulina, 2001. p. 169.
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