Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Norman Cameron - O Tolo Compassivo

Nestas linhas, o poeta escocês nos apresenta uma intrigante situação em que o falante, apesar de reconhecer a trampa tencionada por seu inimigo, toda ela disfarçada de hospitalidade, decide aceitá-la por pura compaixão, para não o deixar sozinho: vestido com zelo para envolver o narrador e fazer com que ele se sinta seguro, o inimigo logo evidencia o seu torpe estratagema e a sua inépcia ou falta de habilidade para executá-lo sem erros.

 

Não deixa de causar perplexidade ao leitor o fato de que o ente lírico se mantém compassivo em relação ao seu contendedor, mesmo quando está sendo lesionado: apesar de adjetivado como um “tolo”, o falante, em sua complacência, assim não age por ingenuidade ou deficiência cognitiva, senão por uma profunda compreensão da natureza humana e suas motivações.

 

De um lado, uma estratégia limitada, ardilosa e mesquinha; de outro, a indulgência perante a vingança e a violência: o poeta parece querer nos convencer de que, mesmo em situações extremas ou mesmo sórdidas, adotar um comportamento compassivo pode muito bem ser uma resposta válida, a coexistir com o reconhecimento dos danos causados por terceiros.

 

J.A.R. – H.C.

 

Norman Cameron

(1905-1953)

 

The Compassionate Fool

 

My enemy had bidden me as guest.

His table all set out with wine and cake,

His ordered chairs, he to beguile me dressed

So neatly, moved my pity for his sake.

 

I knew it was an ambush, but could not

Leave him to eat his cake up by himself

And put his unused glasses on the shelf.

I made pretence of falling in his plot,

 

And trembled when in his anxiety

He bared it too absurdly to my view.

And even as he stabbed me through and through

I pitied him for his small strategy.

 

Fugindo da Crítica

(Pere Borrell del Caso: artista catalão)

 

O Tolo Compassivo

 

Meu inimigo convidou-me como a um hóspede.

Sua mesa toda posta com vinho e bolo,

As cadeiras ordenadas; ele, para me distrair, tão bem

Vestido, que por sua causa me deixei compadecer.

 

Sabia que se tratava de uma emboscada, mas

Não podia deixá-lo degustar o seu bolo sozinho

E repor as suas taças não usadas na cristaleira.

Fiz de conta que caía em sua trama

 

E estremeci quando, em sua ansiedade,

a expôs de forma demasiado absurda à minha vista.

E mesmo quando me apunhalava por todos os lados,

Dele me compadeci por sua torpe estratégia.

 

Referência:

 

CAMERON, Norman. The compassionate fool. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 112.

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