O poeta mexicano bem
sabe que o amor é um sentimento complexo que nem sempre se pode explicar com
palavras, um afeto que se desenvolve lentamente, sem que nos demos conta. Por isso,
há que se ter sensibilidade para tentar decifrar as razões pelas quais o
coração, em dado momento, põe-se a bater com mais intensidade, capturado por
emoções ou paixões decerto despertadas por alguém de interesse.
O amor, quando ainda em
seus preâmbulos, quase sempre paira entre a autenticidade factual e o equívoco,
tendo em vista a dificuldade de se expressar a “verdade” emocional com precisão,
tanto mais porque avança do meramente familiar ao amplo terreno do desconhecido,
dando margem a que emoções reais se ocultem amiúde por trás de uma fachada
tendente a negá-las.
J.A.R. – H.C.
Xavier Villaurrutia
(1903-1950)
Inventar la verdad
Pongo el oído atento
al pecho,
como, en la orilla,
el caracol al mar.
Oigo mi corazón latir
sangrando
y siempre y nunca
igual.
Sé por qué late así,
pero no puedo
decir por qué será.
Si empezara a decirlo
con fantasmas
de palabras y engaños
al azar,
llegaría, temblando
de sorpresa,
a inventar la verdad:
¡Cuando fingí
quererte, no sabía
que te quería ya!
De: “Canto a la
primavera y otros poemas” (1948)
A verdade está em meu
coração
(Mark Witzling: artista
norte-americano)
Inventar a verdade
Ponho o ouvido atento
ao peito,
como, no litoral, o
caracol ao mar.
Ouço meu coração
pulsar sangrando
e sempre e nunca
igual.
Sei por quem pulsa
assim, porém não posso
dizer por que será.
Se começasse a dizê-lo
com fantasmas
de palavras e enganos
a esmo,
chegaria, tremendo de
surpresa,
a inventar a verdade:
Quanto fingi querer-te,
não sabia
que te queria mesmo!
Em: “Canto à
primavera e outros poemas” (1948)
Referência:
VILLAURRUTIA, Xavier.
Inventar la verdad. In: JIMÉNEZ, José Olivio (Selección, prólogo y notas). Antología
de la poesía hispanoamericana contemporánea: 1914-1970. 7. ed. Madrid, ES:
Alianza Editorial, 1984. p. 296-297. (‘El Libro de Bolsillo’)
❁