Com um título a
lembrar uma das cantatas da terceira seção de “Carmina Burana”, do compositor
alemão Carl Orff (1895-1982), o poema de Yêda arrasta o leitor a um cenário
primevo, no qual o “verso” era o manancial de onde tudo jorrava – não
exatamente o “verbo”, como se relata no introito do Evangelho de João –, mote
para toda uma geração que floresceu entre a dominância do latim e as composições
ao toque da lira dos aedos gregos, cujos legítimos herdeiros, podemos dizer
assim, são os poetas contemporâneos.
Ainda que não se domine completamente o sentido atribuído pela poetisa
ao mencionado testemunho deixado por Zambadi, personagem talvez não histórico,
senão simbólico de um mundo porventura concernente aos nossos ancestrais em África,
pode-se deduzir do texto a referência ao fluxo dos desenvolvimentos na seara da
lírica, não exatamente linear, mas dependente do lastro cultural de cada povo, dos
idiomas que aperfeiçoaram ao longo do tempo, suas músicas e entretenimentos,
seus padrões expressivos.
J.A.R. – H.C.
Yêda O. Schmaltz
(1941-2003)
1º Ato: Veni, veni,
venias
1
No princípio era o
verso,
solto abismo e música
cantada.
Vieram os trovadores,
dores e a mulher
amada.
Do nada fez-se
– de onde era treva
pura –
a luz da escritura.
2
Das origens tenho o
testemunho
de Zambadi:
que a gente canta e
baila
caminhando,
assim, a poesia
a gente vai cantando.
E nós, como os Aedos,
aprendizes do Lácio,
seguiremos sós
cantando
Amor e Medo.
Homero recitando os
seus poemas
(Thomas Lawrence: pintor
inglês)
Referência:
SCHMALTZ, Yêda. 1º
Ato: Veni, veni, vênias. In: __________. A ti Áthis. Goiânia, GO: Secretaria
de Cultura da Prefeitura de Goiânia, 1988. p. 13.
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Visitando o blog qualificado e campeão, tomo conhecimento desse poema de YÊDA SCHMALTZ, cuja obra, infelizmente desconheço. Vamos procurar por ela. Excelente escolha, como sempre. Parabéns! Que Deus a tenha, pois o registro é de que não está mais entre nós, o que é lamentável em último grau. Vamos conhecer e divulgar. Nosso abraço poético de domingo. (Belo Horizonte, MG - 06/06/2024)
ResponderExcluirUm grande abraço, igualmente. J. A. Rodrigues
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