Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 25 de junho de 2024

Mark Irwin - Os Chapéus de Meu Pai

Eis aqui um belo poema a tratar das recordações, da relação entre pais e filhos, das sensações nostálgicas da infância e da conexão emocional pela via do simbolismo de alguns objetos – no presente caso, os chapéus usados pelo genitor do falante, sempre guardados na parte de cima de seu armário –, os quais podem servir como portas de entrada para intensas experiências emocionais.

 

Ao evocar as renitentes conexões, quer em relação à figura paterna quer, por associação, em relação à natureza, o poeta emprega imagens vívidas e detalhes sensoriais, recorrendo, até mesmo, a referentes sagrados implicados numa atmosfera de ausência (pois que, ao aludir ao “sono fabuloso” do pai, muito provavelmente se reporte ao seu passamento).

 

J.A.R. – H.C.

 

Mark Irwin

(n. 1953)

 

My Father’s Hats

 

Sunday mornings I would reach

high into his dark closet while standing

on a chair and tiptoeing reach

higher, touching, sometimes fumbling

the soft crowns and imagine

I was in a forest, wind hymning

through pines, where the musky scent

of rain clinging to damp earth was

his scent I loved, lingering on

bands, leather, and on the inner silk

crowns where I would smell his

hair and almost think I was being

held, or climbing a tree, touching

the yellow fruit, leaves whose scent

was that of clove in the godsome

air, as now, thinking of his fabulous

sleep, I stand on this canyon floor

and watch light slowly close

on water I can’t be sure is there.

 

Homem com o chapéu

(Fernando Amorsolo y Cueto: artista filipino)

 

Os Chapéus de Meu Pai

 

Nas manhãs de domingo, eu alcançava

o topo do seu armário escuro servindo-me

de uma cadeira e, na ponta dos pés, chegava

mais alto, tocando, por vezes tateando

as copas macias, imaginando

encontrar-me num bosque, com o vento a ressoar

entre os pinheiros, onde o olor almiscarado

da chuva, agarrado à terra úmida, semelhava-se

ao perfume dele de que tanto gostava, renitente

nas fitas, no couro, nos remates internos

de seda, nos quais podia sentir o cheiro do seus

cabelos e quase pensava estar sendo por ele sustentado,

ou escalando uma árvore, tocando-lhe

os frutos amarelos, as folhas cujo aroma

recendia a cravo numa divina

atmosfera, como agora, ao refletir sobre o seu sono

fabuloso, mantendo-me de pé neste leito de cânion

a observar a luz se fechar lentamente

sobre a água, da qual não posso ter certeza se lá está.

 

Referência:

 

IRWIN, Mark. My father’s hats. In: COLLINS, Billy (Sel. & Int.). Poetry 180: a turn back to poetry. An anthology of contemporary poems. New York, NY: Random House, 2003. p. 202.

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