Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 14 de junho de 2024

W. B. Yeats - Um Casaco

O tempo avança e a poesia do poeta transmuda-se a um estilo mais simples, elíptico às vezes, até mesmo coloquial, vale destacar, mudando também de fundo, ao passar de um marco sobranceiramente mitológico – os nomeados “bordados” do segundo verso deste poema – a uma abordagem, com frequência, confinada à temática pública, viabilizadora de maiores graus de liberdade à sua abordagem criativa.

 

Renunciar provisoriamente às vestes até então empregadas, para “andar nu” e se expor a novas iniciativas, mais desafiadoras, ousadas, absorventes: os “tolos” que as imitem – ou seja, parodiem à vontade o seu anterior estilo. Enquanto isso, o vate caminha em direção à expressão máxima de suas potencialidades, atingindo a plena maturidade em sua fértil produção artística.

 

J.A.R. – H.C.

 

W. B. Yeats

(1865-1939)

 

A Coat

 

I made my song a coat

Covered with embroideries

Out of old mythologies

From heel to throat;

But the fools caught it,

Wore it in the world’s eyes

As though they’d wrought it.

Song, let them take it

For there’s more enterprise

In walking naked.

 

Homem num casaco

(Boris M. Kustodiev: pintor russo)

 

Um Casaco (*)

 

Fiz um casado de meu canto

e recobri-o com bordados

de velhos mitos retirados:

pescoço aos pés, forrava tanto.

Porém os tolos, dando um jeito,

usaram-no, roupa festiva,

no mundo, qual se a houvessem feito.

Seja meu canto assim vestido,

porquanto há mais iniciativa

em caminhar despido.

 

Nota do Tradutor (Péricles E. S. Ramos):

 

(*). Neste famoso poema, de 1912, como “Friends” publicado em “Responsibilities” (1914), Yeats reafirma que, para livrar-se da multidão de imitadores de sua maneira primitiva, o jeito era mudar de estilo. Tiraria seu casaco bordado de mitologia e andaria nu (isto é, escreveria com simplicidade). Ellmann (1954, p. 38) acentua, contudo, que Yeats não quis negar seus antigos símbolos, mas apenas frisar que de então por diante estes não mais fariam parte de sua roupagem exterior e sim de sua própria pele. (YEATS, 1987, n.r. à p. 71)

 

Referências:

 

ELLMANN, Richard. The identity of Yeats. London, EN: Macmillan, 1954.

 

YEATS, W. B. A coat / Um casaco. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: __________. Poemas de W. B. Yeats. Tradução, introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo, SP: Art Editora, 1987. Em inglês: p. 70; em português: p. 71. (Coleção ‘Toda Poesia’; n. 4)

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