O poeta entabula um
paralelo entre a vida a transcorrer nos dois distintos lados que se contrapõem durante
um período de guerra (presume-se, a PGM): para os que lá se encontram, o
emprego do gás de mostarda pelas unidades militares, como arma química contra os
oponentes; para os que permaneceram nas herdades, o cultivo de mostardeiras
selvagens para fins menos beligerantes.
De um lado, os que
partiram para a frente de batalha, muitos dos quais não haverão de retornar,
pois que abatidos nas trincheiras; do outro, aqueles que hão de levar à frente o
lavradio dos campos, compondo um contingente de recursos humanos já mais
limitado, com os consequentes entraves no desenvolvimento dos trabalhos domésticos.
A vida agrícola tem o
seu ritmo alterado: pela conversa entre o lavrador e o orador do poema,
especula-se sobre o que poderia ter sucedido na vida dos remanescentes na
herdade, se a guerra não houvesse estourado. Mesmo no amor, há certa urgência
na expressão dos sentimentos, pois que o dia de amanhã se prenuncia no presente
como simples hipótese. Eis aí o mundo de ponta-cabeça!
J.A.R. – H.C.
Edward Thomas
(1878-1917)
As the team’s
head-brass flashed out on the turn
As the team’s
head-brass flashed out on the turn
The lovers
disappeared into the wood.
I sat among the
boughs of the fallen elm
That strewed an angle
of the fallow, and
Watched the plough
narrowing a yellow square
Of charlock. Every
time the horses turned
Instead of treading
me down, the ploughman leaned
Upon the handles to
say or ask a word,
About the weather,
next about the war.
Scraping the share he
faced towards the wood,
And screwed along the
furrow till the brass flashed
Once more.
The blizzard felled the elm whose crest
I sat in, by a woodpecker’s
round hole,
The ploughman said.
“When will they take it away?”
“When the war’s
over.” So the talk began –
One minute and an
interval of ten,
A minute more and the
same interval.
“Have you been out?”
“No.” “And don’t want to, perhaps?”
“If I could only come
back again, I should.
I could spare an arm.
I shouldn’t want to lose
A leg. If I should
lose my head, why, so,
I should want nothing
more... Have many gone
From here?” “Yes.”
“Many lost?” “Yes, a good few.
Only two teams work
on the farm this year.
One of my mates is
dead. The second day
In France they killed
him. It was back in March,
The very night of the
blizzard, too. Now if
He had stayed here we
should have moved the tree.”
“And I should not
have sat here. Everything
Would have been different.
For it would have been
Another world.” “Ay,
and a better, though
If we could see all
all might seem good.” Then
The lovers came out
of the wood again:
The horses started
and for the last time
I watched the clods
crumble and topple over
After the ploughshare
and the stumbling team.
Arando a terra
(John Atkinson: artista inglês)
Mal refulgiram na
curva os arreios latonados da parelha
Mal refulgiram na
curva os arreios latonados da parelha,
Os amantes
desapareceram no interior do bosque.
Sentei-me entre as
ramagens de um olmo caído
Que juncavam um rincão
sobre a terra em pousio, e passei
A observar como o
arado estreitava um talhão amarelo
De mostardeiras selvagens.
A cada vez que os cavalos giravam,
Em vez de avançarem
sobre mim, o lavrador se inclinava
Sobre as rabiças para
externar ou pedir uma opinião
A respeito do tempo, logo
depois em relação à guerra.
Raspando a relha,
virou-se em direção ao bosque,
Dando voltas ao longo
do sulco até que a lâmina voltasse
a brilhar.
A nevasca havia derrubado o olmo sobre cuja copa
Eu estava sentado, junto
ao oco redondo de um pica-pau.
Disse-me o lavrador
“Quando é que o levarão embora?”
“Quando acabar a
guerra.” E assim iniciou-se a conversa –
Um minuto e depois um
intervalo de dez;
Mais um minuto e então
o mesmo tempo de espera.
“Estiveste na
frente?” “Não.” “E acaso não quererias lá estar?”
“Se houvesse como assegurar-me
da volta, decerto.
Não me importaria em
prescindir de um braço. Não gostaria
De perder uma perna.
Se viesse a perder a cabeça, bem, então
A nada mais faria
sentido se apegar... Muitos daqui
Partiram?” “Sim.”
“Muitos se perderam?” “Sim, uns quantos.
Somente duas parelhas
trabalham na granja este ano.
Um de meus
companheiros está morto. No segundo dia,
Mataram-no em França.
Isso aconteceu em março,
Na mesma noite em que
sobreveio a nevasca. Logo,
Se houvesse aqui
permanecido, teríamos removido a árvore.”
“E eu não haveria de
estar aqui sentado. Tudo
Teria sido diferente.
Pois que se cumpriria
Um outro mundo.” “Certo,
e melhor, embora se fôssemos
Capazes de vê-lo por
inteiro, tudo pudesse parecer bom.”
Então os amantes, em
regresso, saíram do bosque:
Os cavalos retomaram
o trabalho e, pela última vez,
Vi o revolver e o assentar
dos torrões de terra
Por trás do arado e da
tropeçante parelha.
Referência:
THOMAS, Edward. As
the team’s head-brass flashed out. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The
rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 42-43.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário