Mesclando realidade e
fantasia, Jong lança mão até de algumas incursões um tanto libidinosas, tudo
para mostrar que, numa relação de ensino-aprendizagem, os alunos sempre desejam
algo mais do que o simples conhecimento acadêmico, decerto uma conexão
emocional e visceral com o(a) professor(a) – devorando-o(a), deglutindo-o(a) comendo-o(a)!
Os alunos não aspiram
tão apenas às componentes alegóricas de um escrito literário – digo melhor, as
metáforas de um poema e os seus efeitos poéticos –, senão também, e sobretudo, a
própria realidade, pois que “necessitam de sangue”: daí porque obstinam-se em
se apropriar da professora, desnudando-a, absorvendo-a visualmente, avançando
mesmo bem além do literal, para banquetearem-se com sua sabedoria e
experiência.
J.A.R. – H.C.
Erica Jong
(n. 1942)
The Teacher
The teacher stands
before the class.
She’s talking of
Chaucer.
But the students
aren’t hungry for Chaucer.
They want to devour
her.
They are eating her
knees, her toes, her breasts, her eyes
& spitting out
her words.
What do they want
with words?
They want a real
lesson!
She is naked before
them.
Psalms are written on
her thighs.
When she walks,
sonnets divide
into octaves &
sestets.
Couplets fall into
place
when her fingers
nervously toy
with the chalk.
But the words don’t clothe her.
No amount of poetry can save her now.
There’s no volume big enough to hide in.
No unabridged Webster, no OED.
The students aren’t dumb.
They want a lesson.
Once they might have taken life
by the scruff of its neck
in a neat couplet.
But now
they need blood.
They have left
Chaucer alone
& have eaten the
teacher.
She’s gone now.
Nothing remains
but a page of print.
She’s past our helping.
Perhaps she’s part of
her students.
(Don’t ask how.)
Eat this poem.
Mulher ensinando uma
criança a ler
(Ida Silfverberg:
pintora finlandesa)
A Professora
A professora mantém-se
de pé diante da turma.
Seu discurso é sobre
Chaucer.
Contudo, os alunos
não estão famintos por Chaucer.
Desejam devorá-la.
Comem-lhe os joelhos,
os dedos dos pés, os seios, os olhos
& cospem-lhe
as palavras.
O que eles têm em
vista com as palavras?
Apetece-lhes uma
verdadeira lição.
Ela se encontra nua diante
deles.
Salmos estão escritos
em suas coxas.
Ao caminhar, sonetos
se dividem
em oitavas &
sextetos.
Dísticos se encaixam
quando seus dedos
brincam nervosamente
com o giz.
Porém as palavras não
a enroupam.
Nenhuma porção de
poesia a pode salvar agora.
Não há um volume
grande o suficiente onde possa se esconder.
Nenhum dicionário Webster
mais abrangente, nem OED. (*)
Os alunos não são
tolos.
Eles querem uma
lição.
Em tempos idos, poderiam
ter tirado a vida
pela cerviz
num dístico elegante.
Mas agora
necessitam de sangue.
Eles deixaram Chaucer
a sós
& comeram a
professora.
Agora ela já se foi.
Nada mais resta
senão uma página
impressa.
Ela está além da
nossa ajuda.
Talvez seja parte de
seus alunos.
(Não pergunte como.)
Comam este poema.
Nota:
(*). O verso faz
referência a dois dos melhores dicionários do idioma inglês, a saber, o
abrangente (e, por isso mesmo, ciclópico), Merriam-Webster Unabridged, bem
assim o OED – Oxford English Dictionary, idem.
Referência:
JONG, Erica. The
teacher. In: UNTERMEYER, Louis (Ed.). 50 modern american & british
poets: 1920-1970. Edited, with a biographical and critical commentary, by
Louis Untermeyer. New York, NY: David McKay Company Inc., 1973. p. 216-217.
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