Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Erica Jong - A Professora

Mesclando realidade e fantasia, Jong lança mão até de algumas incursões um tanto libidinosas, tudo para mostrar que, numa relação de ensino-aprendizagem, os alunos sempre desejam algo mais do que o simples conhecimento acadêmico, decerto uma conexão emocional e visceral com o(a) professor(a) – devorando-o(a), deglutindo-o(a) comendo-o(a)!

 

Os alunos não aspiram tão apenas às componentes alegóricas de um escrito literário – digo melhor, as metáforas de um poema e os seus efeitos poéticos –, senão também, e sobretudo, a própria realidade, pois que “necessitam de sangue”: daí porque obstinam-se em se apropriar da professora, desnudando-a, absorvendo-a visualmente, avançando mesmo bem além do literal, para banquetearem-se com sua sabedoria e experiência.

 

J.A.R. – H.C.

 

Erica Jong

(n. 1942)

 

The Teacher

 

The teacher stands before the class.

She’s talking of Chaucer.

But the students aren’t hungry for Chaucer.

They want to devour her.

They are eating her knees, her toes, her breasts, her eyes

& spitting out

her words.

What do they want with words?

They want a real lesson!

 

She is naked before them.

Psalms are written on her thighs.

When she walks, sonnets divide

into octaves & sestets.

Couplets fall into place

when her fingers nervously toy

with the chalk.

 

But the words don’t clothe her.

No amount of poetry can save her now.

There’s no volume big enough to hide in.

No unabridged Webster, no OED.

 

The students aren’t dumb.

They want a lesson.

Once they might have taken life

by the scruff of its neck

in a neat couplet.

But now

they need blood.

 

They have left Chaucer alone

& have eaten the teacher.

 

She’s gone now.

Nothing remains

but a page of print.

She’s past our helping.

Perhaps she’s part of her students.

(Don’t ask how.)

 

Eat this poem.

 

Mulher ensinando uma criança a ler

(Ida Silfverberg: pintora finlandesa)

 

A Professora

 

A professora mantém-se de pé diante da turma.

Seu discurso é sobre Chaucer.

Contudo, os alunos não estão famintos por Chaucer.

Desejam devorá-la.

Comem-lhe os joelhos, os dedos dos pés, os seios, os olhos

& cospem-lhe

as palavras.

O que eles têm em vista com as palavras?

Apetece-lhes uma verdadeira lição.

 

Ela se encontra nua diante deles.

Salmos estão escritos em suas coxas.

Ao caminhar, sonetos se dividem

em oitavas & sextetos.

Dísticos se encaixam

quando seus dedos brincam nervosamente

com o giz.

 

Porém as palavras não a enroupam.

Nenhuma porção de poesia a pode salvar agora.

Não há um volume grande o suficiente onde possa se esconder.

Nenhum dicionário Webster mais abrangente, nem OED. (*)

 

Os alunos não são tolos.

Eles querem uma lição.

Em tempos idos, poderiam ter tirado a vida

pela cerviz

num dístico elegante.

Mas agora

necessitam de sangue.

 

Eles deixaram Chaucer a sós

& comeram a professora.

 

Agora ela já se foi.

Nada mais resta

senão uma página impressa.

Ela está além da nossa ajuda.

Talvez seja parte de seus alunos.

(Não pergunte como.)

 

Comam este poema.

 

Nota:

 

(*). O verso faz referência a dois dos melhores dicionários do idioma inglês, a saber, o abrangente (e, por isso mesmo, ciclópico), Merriam-Webster Unabridged, bem assim o OED – Oxford English Dictionary, idem.

 

Referência:

 

JONG, Erica. The teacher. In: UNTERMEYER, Louis (Ed.). 50 modern american & british poets: 1920-1970. Edited, with a biographical and critical commentary, by Louis Untermeyer. New York, NY: David McKay Company Inc., 1973. p. 216-217.

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