Uma atitude de
contemplação e de aceitação em relação à beleza, à complexidade e aos mistérios
do mundo avulta nas linhas deste poema: delas se depreende que não devemos destruir
ou subtrair a magia que há em nossas veredas, para que, desse modo, possamos preservar
intacta a “corola” do que nos encanta, surpreende, maravilha, sem necessidade,
por conseguinte, de desvelar-lhe e compreender-lhe os segredos pela via de uma contumaz
atividade mental.
Tudo é mistério,
enigma e milagre, o incompreensível a cobrir o vasto espectro da vida e da
morte, seja nas flores, nos olhos, nos lábios ou nos túmulos: enquanto a luz
dos outros sufoca o encanto do desconhecido, oculto nas profundezas da
escuridão, o poeta, pelo contrário, procura aumentar o mistério do mundo por meio de sua própria luz.
J.A.R. – H.C.
Lucian Blaga
(1895-1961)
Eu nu strivesc corola
de minuni a lumii
Eu nu strivesc corola
de minuni a lumii
şi nu ucid
cu mintea tainele, ce
le-ntâlnesc
în calea mea
în flori, în ochi, pe
buze ori morminte.
Lumina altora
sugrumă vraja nepătrunsului ascuns
în adâncimi de
întuneric,
dar eu,
eu cu lumina mea
sporesc a lumii taină -
şi-ntocmai cum cu
razele ei albe luna
nu micşorează, ci tremurătoare
măreşte şi mai tare taina nopţii,
aşa îmbogăţesc şi eu întunecata zare
cu largi fiori de
sfânt mister
şi tot ce-i neînţeles
se schimbă-n neînţelesuri şi mai mari
sub ochii mei –
căci eu iubesc
şi flori şi ochi şi
buze şi morminte.
(1919)
Caminhada matinal
pela floresta
(Shelly Du: artista
australiana)
Eu não piso a corola
de milagres do mundo
Eu não piso a corola
de milagres do mundo
e não mato
com a mente os mistérios
que encontro
em meu caminho
nas flores, nos
olhos, nas bocas ou nas campas.
A luz de outros
sufoca o encanto do
impenetrável escondido
nas profundezas de
trevas,
mas eu,
eu com minha luz
acrescento ao mistério do mundo
e exatamente como com
seus brancos raios a lua
não míngua mas,
trêmula,
aumenta ainda mais o mistério
da noite.
assim enriqueço
também eu o horizonte das trevas
com amplos calafrios
de santos segredos,
e todo o
incompreendido
muda -se em
incompreensões ainda maiores
sob meus olhos –
pois eu amo
tantas folhas quantos
olhos, tantas bocas quantas campas.
(1919)
Referência:
BLAGA, Lucian. Eu nu
strivesc corola de minuni a lumii / Eu não piso a corola de milagres do mundo. Tradução
de Caetano Waldrigues Galindo. In: __________. A grande travessia.
Seleção, tradução e introdução de Caetano Waldrigues Galindo. Brasília, DF:
Editora da UnB, 2005. Em romeno: p. 100; em português: p. 101. (Coleção ‘Poetas
do Mundo’)
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