Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Lucian Blaga - Eu não piso a corola de milagres do mundo

Uma atitude de contemplação e de aceitação em relação à beleza, à complexidade e aos mistérios do mundo avulta nas linhas deste poema: delas se depreende que não devemos destruir ou subtrair a magia que há em nossas veredas, para que, desse modo, possamos preservar intacta a “corola” do que nos encanta, surpreende, maravilha, sem necessidade, por conseguinte, de desvelar-lhe e compreender-lhe os segredos pela via de uma contumaz atividade mental.

 

Tudo é mistério, enigma e milagre, o incompreensível a cobrir o vasto espectro da vida e da morte, seja nas flores, nos olhos, nos lábios ou nos túmulos: enquanto a luz dos outros sufoca o encanto do desconhecido, oculto nas profundezas da escuridão, o poeta, pelo contrário, procura aumentar o mistério do mundo por meio de sua própria luz.

 

J.A.R. – H.C.

 

Lucian Blaga

(1895-1961)

 

Eu nu strivesc corola de minuni a lumii

 

Eu nu strivesc corola de minuni a lumii

şi nu ucid

cu mintea tainele, ce le-ntâlnesc

în calea mea

în flori, în ochi, pe buze ori morminte.

Lumina altora

sugrumă vraja nepătrunsului ascuns

în adâncimi de întuneric,

dar eu,

eu cu lumina mea sporesc a lumii taină -

şi-ntocmai cum cu razele ei albe luna

nu micşorează, ci tremurătoare

măreşte şi mai tare taina nopţii,

aşa îmbogăţesc şi eu întunecata zare

cu largi fiori de sfânt mister

şi tot ce-i neînţeles

se schimbă-n neînţelesuri şi mai mari

sub ochii mei –

căci eu iubesc

şi flori şi ochi şi buze şi morminte.

 

(1919)

 

Caminhada matinal pela floresta

(Shelly Du: artista australiana)

 

Eu não piso a corola de milagres do mundo

 

Eu não piso a corola de milagres do mundo

e não mato

com a mente os mistérios que encontro

em meu caminho

nas flores, nos olhos, nas bocas ou nas campas.

A luz de outros

sufoca o encanto do impenetrável escondido

nas profundezas de trevas,

mas eu,

eu com minha luz acrescento ao mistério do mundo

e exatamente como com seus brancos raios a lua

não míngua mas, trêmula,

aumenta ainda mais o mistério da noite.

assim enriqueço também eu o horizonte das trevas

com amplos calafrios de santos segredos,

e todo o incompreendido

muda -se em incompreensões ainda maiores

sob meus olhos –

pois eu amo

tantas folhas quantos olhos, tantas bocas quantas campas.

 

(1919)

 

Referência:

 

BLAGA, Lucian. Eu nu strivesc corola de minuni a lumii / Eu não piso a corola de milagres do mundo. Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. In: __________. A grande travessia. Seleção, tradução e introdução de Caetano Waldrigues Galindo. Brasília, DF: Editora da UnB, 2005. Em romeno: p. 100; em português: p. 101. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)

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