O poeta canta loas a
todas as figuras históricas que, ao longo dos séculos, fizeram notável diferença
por suas visões, obras ou mudanças que promoveram, sacrificando suas vidas – “do
útero até o túmulo” – por seus ideais, dando continuidade ao fluxo de luz e
boa-andança que advém da noite dos tempos, ao qual outorgam predicações de atemporalidade
e de nobres láureas.
Se temos o que temos
contemporaneamente – depois de muitas guerras, pugnas, conflagrações –, muito
se deve à luta não só dos grandes nomes que pululam nos livros de História, mas
também de todas aquelas pessoas anônimas que, com grandiosidade de espírito, propuseram-se
a lançar o seu singelo tijolo na estrutura desse sobranceiro obelisco comunitário.
J.A.R. – H.C.
Stephen Spender
(1909-1995)
I think continually
of those who were truly great
I think continually
of those who were truly great.
Who, from the womb,
remembered the soul’s history
Through corridors of
light, where the hours are suns,
Endless and singing.
Whose lovely ambition
Was that their lips,
still touched with fire,
Should tell of the
Spirit, clothed from head to foot in song.
And who hoarded from
the Spring branches
The desires falling
across their bodies like blossoms.
What is precious, is
never to forget
The essential delight
of the blood drawn from ageless springs
Breaking through
rocks in worlds before our earth.
Never to deny its
pleasure in the morning simple light
Nor its grave evening
demand for love.
Never to allow
gradually the traffic to smother
With noise and fog,
the flowering of the spirit.
Near the snow, near
the sun, in the highest fields,
See how these names
are fêted by the waving grass
And by the streamers
of white cloud
And whispers of wind
in the listening sky.
The names of those
who in their lives fought for life,
Who wore at their
hearts the fire’s centre.
Born of the sun, they
travelled a short while toward the sun
And left the vivid
air signed with their honour.
Lírios Raionistas
(Natalia Goncharova:
pintora russa)
Eu penso
continuamente naqueles que foram realmente grandes
Eu penso
continuamente naqueles que foram realmente grandes,
Que, desde o útero,
recordaram a história da alma
Por corredores de luz
em que as horas são sóis,
Eternos e cantantes.
Cuja amável ambição
Era de que seus
lábios, ainda tocados pelo fogo,
Falassem do espírito
vestido da cabeça aos pés em canções.
E que amealharam, dos
galhos da primavera,
Os desejos que
caíssem pelos corpos como flores.
O que é preciso é não
esquecer nunca
A delícia do sangue
retirado de primaveras intemporais
Irrompendo através de
rochas para mundos anteriores à nossa terra;
Não negar nunca o
prazer da simples luz matinal
Nem sua grave demanda
crepuscular de amor;
Nunca permitir o
tráfego progressivo para a sufocação
Que o ruído e a
neblina trazem ao florescer do espírito.
Perto da neve, perto
do sol, nos campos mais altos,
Vê como esses nomes
são festejados pela relva ondulante
E pelas correntes de
branca nuvem
E pelos sussurros do
vento ao céu que escuta;
Os nomes daqueles que
em vida lutaram pela vida
E mantiveram em seus
corações o centro do fogo.
Nascidos do sol,
fizeram curta viagem na direção do sol
E deixaram o ar
fremente assinalado por sua honra.
Referência:
SPENDER, Stephen. I
think continually of those who were truly great / Eu penso continuamente
naqueles que foram realmente grandes. Tradução de Jorge Wanderley. Poesia
sempre: revista semestral de poesia. Fundação Biblioteca Nacional, Rio de
janeiro (RJ), ano 6, n. 9, mar. 1998. Em inglês: p. 124; em português: p. 125.
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