O poeta aborda o tema
das “quatro estações” não exatamente como costumamos nos defrontar – ou seja, a
designar a passagem, ao longo do ano, dos quatro períodos com padrões
climáticos bem definidos – primavera, verão, outono e inverno –, senão à luz do
quaternário dos elementos fundamentais da natureza: terra, fogo, água e ar.
São eles os quatro
pilares deste plano de existência, deste mundo natural no qual o homem teima em
macular-lhes o mistério e a pureza, consistindo – a julgar pela imagística
empregada por Lagrasta – numa representação dual tanto da criação e da vida
quanto da destruição e da morte – ou até bem mais do que isso, pois que também
traduziriam um certo simbolismo hermético, irredutível aos parâmetros da
linguagem, ao universo das palavras.
J.A.R. – H.C.
Caetano Lagrasta Neto
(n. 1943)
quatro estações
de quatro elementos
extrair se pensa
universo terra
fogo água ar
não fosse homem
a macular mistério
terra tudo que
pisamos
de onde brotam flores
onde brotamos
dias a gastar
no enterrar
mortos
fogo segredando
divindade
sacrifício de sangue
a troco do saber
pecado
fogo apaga rastros
mata
água de barcos à
deriva
de deus até que o
diabo enxergue
no silêncio de ilhas
escondido ar
brisa sem pressa de
engano
prenuncio de chuva
que invade casa e cômodo
assobio sem par no
sufoco de pios
pássaros desmanchados
em nuvem
tempestade funda
cidades
desfeitas em pó
pegadas eternas
do retorno à semente
definições as há
e quantas!
mas prefiro estas no
impossível
que emoldura
e trai
Onda Cósmica
(Johnny Maggard: artista
norte-americano)
Referência:
LAGRASTA, Caetano. quatro
estações. In: __________. livro de horas: poema. São Paulo, SP: Ed. do
Autor, 2004. p. 32-33.
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