A palavra sagrada se
transforma e assume novas facetas na sociedade contemporânea, novas formas de
conexão com o divino, não estando mais confinada aos espaços religiosos
tradicionais, agora muito mais influenciados pela esfera material da realidade –
digamos assim –, com amplos efeitos sobre a noção de espiritualidade: aliás, há
quem albergue a tese de que não há uma conexão necessária entre espiritualidade
e deidade, podendo aquela existir sem esta.
Talvez se possa
avançar ainda um pouco mais no comentário: os versos parecem sugerir uma
crítica à comercialização da espiritualidade e à transformação da fé em uma
moeda de troca, especificamente quanto ao emprego da metáfora “bolsa de valores do
espírito” (perceba-se o propósito de enlace da esfera espiritual ao mercado
financeiro), suscitando desse modo a ideia de que as experiências religiosas passaram
a ser objeto de compra e de venda, perdendo assim a sua autenticidade e o seu significado.
J.A.R. – H.C.
Luís Augusto Cassas
(n. 1953)
o verbo
a palavra sagrada
jorrava nos templos
e derramava
o arco-íris
das bem-aventuranças
mas os templos
cansaram
de louvar a criação
e a palavra sagrada
lançou-se do púlpito
a bolsa de valores
do espírito
abriu ao povo
as moedas e dons
das transfigurações
então o coração
tornou-se o santuário
e Jakin e Bohaz
as hastes do corpo
os pilares
(Deus
havia entrado
na Era de Aquário)
(seção 3 de “cintilações:
relatos da fumaça do incenso”)
O amor é um verbo
(Inji Elnadi: artista
egipto-canadense)
Referência:
CASSAS, Luís Augusto.
o verbo. In: __________. a poesia sou eu: poesia reunida. Vol. 2. Rio de
Janeiro, RJ: Imago, 2012. p. 563-564. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 jun.
2024.
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