Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 29 de junho de 2024

Luís Augusto Cassas - o verbo (3)

A palavra sagrada se transforma e assume novas facetas na sociedade contemporânea, novas formas de conexão com o divino, não estando mais confinada aos espaços religiosos tradicionais, agora muito mais influenciados pela esfera material da realidade – digamos assim –, com amplos efeitos sobre a noção de espiritualidade: aliás, há quem albergue a tese de que não há uma conexão necessária entre espiritualidade e deidade, podendo aquela existir sem esta.

 

Talvez se possa avançar ainda um pouco mais no comentário: os versos parecem sugerir uma crítica à comercialização da espiritualidade e à transformação da fé em uma moeda de troca, especificamente quanto ao emprego da metáfora “bolsa de valores do espírito” (perceba-se o propósito de enlace da esfera espiritual ao mercado financeiro), suscitando desse modo a ideia de que as experiências religiosas passaram a ser objeto de compra e de venda, perdendo assim a sua autenticidade e o seu significado.

 

J.A.R. – H.C.

 

Luís Augusto Cassas

(n. 1953)

 

o verbo

 

a palavra sagrada

jorrava nos templos

e derramava

o arco-íris

das bem-aventuranças

 

mas os templos

cansaram

de louvar a criação

e a palavra sagrada

lançou-se do púlpito

 

a bolsa de valores

do espírito

abriu ao povo

as moedas e dons

das transfigurações

 

então o coração

tornou-se o santuário

e Jakin e Bohaz

as hastes do corpo

os pilares

(Deus

havia entrado

na Era de Aquário)

 

(seção 3 de “cintilações:

relatos da fumaça do incenso”)

 

O amor é um verbo

(Inji Elnadi: artista egipto-canadense)

 

Referência:

 

CASSAS, Luís Augusto. o verbo. In: __________. a poesia sou eu: poesia reunida. Vol. 2. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 2012. p. 563-564. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 jun. 2024.

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