Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Aleksandr Púchkin - Sobrevivi a meus desejos

Desilusão, melancolia, amargura, frustação, desesperança, estagnação: são esses os sentimentos que permeiam a atmosfera destes versos de Púchkin, todos a sugerir certa decepção com os resultados alcançados pela materialização de seus desejos, aos quais o ente lírico “sobreviveu”, embora, doravante, sem o suficiente vigor para encontrar motivos palpáveis de renovo.

 

É um mundo em desencanto, carente de novas aspirações, “coroa em flor” estiolada de diferido deperecimento, presumivelmente opressivo ante a perda da juventude e o paulatino definhamento do falante. Mas como afirma o provérbio chinês, um homem só envelhece quando os lamentos passam a substituir os seus sonhos!

 

J.A.R. – H.C.

 

Aleksandr Púchkin

Retrato de O. A. Kiprensky

(1799-1837)

 

Я пережил свои желанья

 

Я пережил свои желанья,

Я разлюбил свои мечты;

Остались мне одни страданья,

Плоды сердечной пустоты.

 

Под бурями судьбы жестокой

Увял цветущий мой венец;

Живу печальный, одинокий,

И жду: придет ли мой конец?

 

Так, поздним хладом пораженный,

Как бури слышен зимний свист,

Один на ветке обнаженной

Трепещет запоздалый лист.

 

(1821)

 

Os desejos insatisfeitos

(Salvador Dalí: pintor espanhol)

 

Sobrevivi a meus desejos

 

Sobrevivi a meus desejos,

Desgostei de cada ilusão;

Restam-me apenas ais e arquejos,

Frutos do fútil coração.

 

Com temporais, fado medonho

Minha coroa em flor murchou;

Estou sozinho, estou tristonho:

Por que meu fim já não chegou?

 

Do frio extremo impressionada,

(É inverno, e há ruir de temporal),

Treme, na planta desnudada,

Folha que tarda a se ir, tal qual.

 

(1821)

 

Referência:

 

PÚCHKIN, Aleksandr. Я пережил свои желанья / Sobrevivi a meus desejos. In: __________. Poesias escolhidas. Seleção, tradução do russo, prefácio, breve notícia sobre Aleksandr Púchkin, notas e apêndice por José Casado. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1992. Em russo: p. 192; em português: p. 193. (‘Poesia de Todos os Tempos’)

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