Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 9 de junho de 2024

Omar Khayyám - 136 – Alegra-te, amigo!

Esta versão poética de certa passagem do Rubáiyát muito nos lembra de outras similares preleções, como as insertas no Eclesiastes 9: 7-12: gozar o quanto se nos oferecer os melhores dias, enquanto se é vivo e com saúde, mantendo hígido o espírito, pois no mundo dos mortos não há ação, pensamento, ciência ou sabedoria.

 

Uma observação: a expressão “crentes obtusos”, empregada na última estrofe, sugere-me, sobretudo, censura às formas limitadas – e limitantes – de se examinar os textos sagrados, capturando-os em sua infecunda literalidade, sobretudo quando em confronto direto com a ciência – a exemplo das descrições acerca da criação do mundo, contidas no Gênesis, melhor interpretadas, s.m.j., se apreendidas sob um ponto de vista figurado ou metafórico.

 

J.A.R. – H.C.

 

Omar Khayyám

(1048-1131)

 

136 – Alegra-te, amigo!

 

Alegra-te, amigo!

Mergulha nos prazeres,

a vida é o instante de gozo!

 

Inapelavelmente

terminarão teus dias.

Destruído esse corpo,

desfar-se-á em prantos e lamentos

teu pobre espírito.

Invectivando-te

por não teres vivido,

por teres feito da vida

um tecido de hipocrisias.

 

Essas cabeças que hoje vês,

não só de crentes obtusos

como de homens libertos,

serão amanhã,

todas elas,

calcadas

pelos pés indiferentes

dos oleiros.

 

O estúdio do oleiro

(Walter P. S. Griffin: pintor norte-americano)

 

Referência:

 

KHAYYÁM, Omar. 136 – Alegra-te, amigo! Tradução de Christovam de Camargo. In: __________. Rubáiyát. Versão poética ao português de Christovam de Camargo, baseada na interpretação literal do texto persa feita por Ragy Basile. São Paulo, SP: Martin Claret, 2003. p. 158. (Coleção “A Obra-Prima de Cada Autor”; v. 156)

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