Esta versão poética
de certa passagem do Rubáiyát muito nos lembra de outras similares preleções,
como as insertas no Eclesiastes 9: 7-12: gozar o quanto se nos oferecer os melhores
dias, enquanto se é vivo e com saúde, mantendo hígido o espírito, pois no mundo
dos mortos não há ação, pensamento, ciência ou sabedoria.
Uma observação: a
expressão “crentes obtusos”, empregada na última estrofe, sugere-me, sobretudo,
censura às formas limitadas – e limitantes – de se examinar os textos sagrados,
capturando-os em sua infecunda literalidade, sobretudo quando em confronto direto
com a ciência – a exemplo das descrições acerca da criação do mundo, contidas
no Gênesis, melhor interpretadas, s.m.j., se apreendidas sob um ponto de vista figurado
ou metafórico.
J.A.R. – H.C.
Omar Khayyám
(1048-1131)
136 – Alegra-te,
amigo!
Alegra-te, amigo!
Mergulha nos
prazeres,
a vida é o instante
de gozo!
Inapelavelmente
terminarão teus dias.
Destruído esse corpo,
desfar-se-á em
prantos e lamentos
teu pobre espírito.
Invectivando-te
por não teres vivido,
por teres feito da
vida
um tecido de
hipocrisias.
Essas cabeças que
hoje vês,
não só de crentes
obtusos
como de homens
libertos,
serão amanhã,
todas elas,
calcadas
pelos pés
indiferentes
dos oleiros.
O estúdio do oleiro
(Walter P. S.
Griffin: pintor norte-americano)
Referência:
KHAYYÁM, Omar. 136 – Alegra-te, amigo! Tradução de Christovam de Camargo. In: __________. Rubáiyát. Versão poética ao português de Christovam de Camargo, baseada na interpretação literal do texto persa feita por Ragy Basile. São Paulo, SP: Martin Claret, 2003. p. 158. (Coleção “A Obra-Prima de Cada Autor”; v. 156)
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