Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 5 de junho de 2024

Ruy Espinheira Filho - Soneto de um amor

Falar de amor é abismar-se em voragens de metáforas – cores, sabores, estampas, climas, melodias, sensações, fragrâncias e o que tudo mais pode conceber a mente humana, a do poeta em especial –, vertidas em linguagem, em linhas livres ou ritmadas, com métrica e rima, a exemplo deste belo soneto do autor baiano.

 

O amor é essa combinação que não consiste em mera aproximação, senão efetiva união a integrar elementos nem sempre convergentes – “coincidentia contrariorum” –, “tortura do esplendor da vida”, também condescendência, contemporização, deferência: como vocação primeira da pessoa humana, o amor é só o que remanesce quando finda a sucessão dos dias!

 

J.A.R. – H.C.

 

Ruy Espinheira Filho

(n. 1942)

 

Soneto de um amor

 

Quando chegou, nem parecia ser.

Agora é isto, este pulsar violento

a rir à toa, a crepitar no vento,

e este oceano, e este amanhecer,

 

mais estas comoções de anoitecer,

mais estes girassóis no pensamento,

raio fendendo a alma (lento, lento...),

e esta estranheza de dizer e crer,

 

e este ácido pássaro no peito,

e uma ternura ardendo na ferida,

e um silêncio, e um fragor, e o céu desfeito

 

por sobre tudo, e a lua comovida

chorando um choro cândido, perfeito

a esta tortura do esplendor da vida!

 

Coração Enternecido II

(Monika Dewangan: artista indiana)

 

Referência:

 

ESPINHEIRA FILHO, Ruy. Soneto de um amor. AYALA, Walmir (Seleção e Organização). Poemas de amor: Shakespeare, Camões, Machado, Florbela, Lorca e outros 115 poetas de ontem e de hoje. Edição revista e atualizada por André Seffrin. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2022. p. 120. (Coleção ‘Histórias de Amor’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário