No Absoluto da
epígrafe a composição de opostos, como que a se reportar às vetustas palavras
de Lao-Tsé: ira e fleuma no conhecimento do Eterno, insciência e consciência, imponderação
e sabedoria, colusão e inocência, instinto e razão, corpo e mente – agora e
sempre. De resto, o silêncio a que todos se submetem pelo advento da morte.
Exórdio e poder
impessoal, o Absoluto manifesta-se em darma, espécie de manancial onipresente, incorpóreo
e infindável, a presidir o universo (‘brahman’). Em paralelo, o componente
essencial do ser humano, seu esteio e sopro vital (‘atman’) –, em última
instância, o destinatário da distinta elocução da falante.
J.A.R. – H.C.
Mariana Ianelli
(n. 1979)
Absoluto
Para estar em Deus
Há que se provar pelo
tato
O rancor dos
temporais,
A calma gentil dos
regatos,
O segredo das grutas e
das ribanceiras.
Para ouvir o canto
De uma sabedoria
ignorante de si mesma
E conhecer o topo da
coragem
Que as ilíadas
desconhecem,
Há que se amar o
irracional
Em seu embrião de
consciência.
Para entender a razão
dos inocentes
E a vitória do
instinto
Sobre a conspiração
do contingente,
Há que se viver na pele
de um animal
E cumprir uma
existência inteira
Só pela força dos
cornos e dos dentes.
Para desvendar os
humores da natureza
De que se fazem as
estações do tempo,
Há que se voltar para
a terra, em corpo e mente,
E tirar do sal o que se
dá a uma semente.
Ser em si o
agora-e-sempre. Na morte, ser silêncio.
Absoluto
(Johan Calitz:
artista sul-africano)
Referência:
IANELLI, Mariana.
Absoluto. In: __________. Fazer silêncio. São Paulo, SP: Iluminuras,
2005. p. 77.
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