Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Mariana Ianelli - Absoluto

No Absoluto da epígrafe a composição de opostos, como que a se reportar às vetustas palavras de Lao-Tsé: ira e fleuma no conhecimento do Eterno, insciência e consciência, imponderação e sabedoria, colusão e inocência, instinto e razão, corpo e mente – agora e sempre. De resto, o silêncio a que todos se submetem pelo advento da morte.

 

Exórdio e poder impessoal, o Absoluto manifesta-se em darma, espécie de manancial onipresente, incorpóreo e infindável, a presidir o universo (‘brahman’). Em paralelo, o componente essencial do ser humano, seu esteio e sopro vital (‘atman’) –, em última instância, o destinatário da distinta elocução da falante.

 

J.A.R. – H.C.

 

Mariana Ianelli

(n. 1979)

 

Absoluto

 

Para estar em Deus

Há que se provar pelo tato

O rancor dos temporais,

A calma gentil dos regatos,

O segredo das grutas e das ribanceiras.

 

Para ouvir o canto

De uma sabedoria ignorante de si mesma

E conhecer o topo da coragem

Que as ilíadas desconhecem,

Há que se amar o irracional

Em seu embrião de consciência.

 

Para entender a razão dos inocentes

E a vitória do instinto

Sobre a conspiração do contingente,

Há que se viver na pele de um animal

E cumprir uma existência inteira

Só pela força dos cornos e dos dentes.

 

Para desvendar os humores da natureza

De que se fazem as estações do tempo,

Há que se voltar para a terra, em corpo e mente,

E tirar do sal o que se dá a uma semente.

Ser em si o agora-e-sempre. Na morte, ser silêncio.

 

Absoluto

(Johan Calitz: artista sul-africano)

 

Referência:

 

IANELLI, Mariana. Absoluto. In: __________. Fazer silêncio. São Paulo, SP: Iluminuras, 2005. p. 77.

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