Não há como não se
atribuir a este poema de Bracho – poetisa mexicana – um sentido pronunciadamente
erótico, num enlace de amantes em pleno gozo, muito embora a falante, ao permear
o discurso com certos efeitos gramaticais translatícios – como o pronome “quem”
associado ao companheiro –, desperte no leitor, de algum modo, a impressão de
que esteja a alguma distância do retratado êxtase carnal.
Muitas são as imagens empregadas, sugerindo o prazer usufruído em uma ardorosa e gratificante relação sexual: a linguagem se impregna de desconcertantes associações sinestésicas, muitas das quais alusivas a um rompante lúbrico, no qual o calor e o suor dos corpos surgem texturizados e metaforizados em componentes de um cenário tropical úmido, pantanoso, intrincado, tórrido, aos borbotões.
J.A.R. – H.C.
Coral Bracho
(n. 1951)
En la humedad cifrada
Oigo tu cuerpo con la
avidez abrevada y tranquila
de quien se impregna
(de quien
emerge,
de quien se extiende
saturado,
recorrido
de esperma) en la
humedad
cifrada (suave
oráculo espeso; templo)
en los limos,
embalses tibios, deltas,
de su origen; bebo
(tus raíces abiertas
y penetrables; en tus costas
lascivas – cieno
bullente – landas)
los designios
musgosos, tus savias densas
(parva de lianas
ebrias) Huelo
en tus bordes
profundos, expectantes, las brasas,
en tus selvas
untuosas,
las vertientes. Oigo
(tu semen táctil) los veneros, las larvas;
(ábside fértil) Toco
en tus ciénegas
vivas, en tus lamas: los rastros
en tu fragua
envolvente: los indicios
(Abro
a tus muslos ungidos,
rezumantes; escanciados de luz) Oigo
en tus légamos
agrios, a tu orilla: los palpos, los augurios
– siglas inmersas;
blastos –. En tus atrios:
las huellas vitreas,
las libaciones (glebas fecundas),
los hervideros.
En: “El ser que va a
morir” (1982)
O abraço
(Amantes II)
(Egon Schiele: pintor
austríaco)
Na umidade cifrada
Ouço teu corpo com a
avidez saciada e tranquila
de quem se impregna
(de quem
emerge,
de quem se estende
saturado,
percorrido
de esperma) na
unidade
cifrada (suave e
espesso oráculo; templo)
nos limos, represas tépidas,
deltas,
de sua origem; bebo
(tuas raízes abertas
e penetráveis; em tuas costas
lascivas – lodo
fervente – landas)
os desígnios
musgosos, tuas seivas densas
(meda de lianas
ébrias) Inalo
em tuas bordas
profundas, expectantes, as brasas,
em tuas selvas
untuosas,
as vertentes. Ouço
(teu sêmen táctil) os mananciais, as larvas;
(abside fértil) Toco
em teus vivos
pantanais, em tuas lamas: os rastros
em tua frágua
envolvente: os indícios
(Abro
a tuas coxas ungidas,
ressumantes, escançadas de luz) Ouço
em teus acres sedimentos,
no teu litoral: os palpos, os augúrios
– siglas imersas;
blastos –. Em teus átrios:
as trilhas vítreas,
as libações (glebas fecundas),
as efusões termais.
Em: “O ser que vai
morrer” (1982)
Referência:
BRACHO, Coral. En la humedad cifrada. In: __________. Huellas de luz. Presentación de Adolfo Castañón. 1. ed. México, D.F.: Consejo Nacional para la Cultura y las Artes, 1994. p. 41. (Lecturas Mexicanas; Tercera Serie; n. 92)
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