Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 15 de junho de 2024

Coral Bracho - Na umidade cifrada

Não há como não se atribuir a este poema de Bracho – poetisa mexicana – um sentido pronunciadamente erótico, num enlace de amantes em pleno gozo, muito embora a falante, ao permear o discurso com certos efeitos gramaticais translatícios – como o pronome “quem” associado ao companheiro –, desperte no leitor, de algum modo, a impressão de que esteja a alguma distância do retratado êxtase carnal.

 

Muitas são as imagens empregadas, sugerindo o prazer usufruído em uma ardorosa e gratificante relação sexual: a linguagem se impregna de desconcertantes associações sinestésicas, muitas das quais alusivas a um rompante lúbrico, no qual o calor e o suor dos corpos surgem texturizados e metaforizados em componentes de um cenário tropical úmido, pantanoso, intrincado, tórrido, aos borbotões.

 

J.A.R. – H.C.

 

Coral Bracho

(n. 1951)

 

En la humedad cifrada

 

Oigo tu cuerpo con la avidez abrevada y tranquila

de quien se impregna (de quien

emerge,

de quien se extiende saturado,

recorrido

de esperma) en la humedad

cifrada (suave oráculo espeso; templo)

en los limos, embalses tibios, deltas,

de su origen; bebo

(tus raíces abiertas y penetrables; en tus costas

lascivas – cieno bullente – landas)

los designios musgosos, tus savias densas

(parva de lianas ebrias) Huelo

en tus bordes profundos, expectantes, las brasas,

en tus selvas untuosas,

las vertientes. Oigo (tu semen táctil) los veneros, las larvas;

(ábside fértil) Toco

en tus ciénegas vivas, en tus lamas: los rastros

en tu fragua envolvente: los indicios

(Abro

a tus muslos ungidos, rezumantes; escanciados de luz) Oigo

en tus légamos agrios, a tu orilla: los palpos, los augurios

– siglas inmersas; blastos –. En tus atrios:

las huellas vitreas, las libaciones (glebas fecundas),

los hervideros.

 

En: “El ser que va a morir” (1982)

 

O abraço

(Amantes II)

(Egon Schiele: pintor austríaco)

 

Na umidade cifrada

 

Ouço teu corpo com a avidez saciada e tranquila

de quem se impregna (de quem

emerge,

de quem se estende saturado,

percorrido

de esperma) na unidade

cifrada (suave e espesso oráculo; templo)

nos limos, represas tépidas, deltas,

de sua origem; bebo

(tuas raízes abertas e penetráveis; em tuas costas

lascivas – lodo fervente – landas)

os desígnios musgosos, tuas seivas densas

(meda de lianas ébrias) Inalo

em tuas bordas profundas, expectantes, as brasas,

em tuas selvas untuosas,

as vertentes. Ouço (teu sêmen táctil) os mananciais, as larvas;

(abside fértil) Toco

em teus vivos pantanais, em tuas lamas: os rastros

em tua frágua envolvente: os indícios

(Abro

a tuas coxas ungidas, ressumantes, escançadas de luz) Ouço

em teus acres sedimentos, no teu litoral: os palpos, os augúrios

– siglas imersas; blastos –. Em teus átrios:

as trilhas vítreas, as libações (glebas fecundas),

as efusões termais.

 

Em: “O ser que vai morrer” (1982)

 

Referência:

 

BRACHO, Coral. En la humedad cifrada. In: __________. Huellas de luz. Presentación de Adolfo Castañón. 1. ed. México, D.F.: Consejo Nacional para la Cultura y las Artes, 1994. p. 41. (Lecturas Mexicanas; Tercera Serie; n. 92)

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