Temos aqui um outro
poema – de matiz reverencioso, contemplativo e introspectivo –, a explorar
temas como a imortalidade, a resiliência, a interconexão com a natureza e, por
extensão, com a vida: o falante nos põe a refletir sobre o nosso lugar no
universo, nossa capacidade de superar as adversidades, desafios e provações, diante
das quais nos deparamos ao longo desta breve existência, até que retornemos ao “pó”
primordial.
Corpo e alma podem
alcançar um estado conjunto de otimismo, de energia psíquica, de vitalidade, objetivamente
persuasivo, ainda que estejam incidentalmente permeados – tal como no humor
disjuntivo apresentado pelo ente lírico, no decurso das três seções do poema – por
certas imagens suprarrealistas, como a de se fundir com plantas ou minerais,
para, enfim, alcançar a plena libertação dos ciclos de venturas e de angústias
humanas.
J.A.R. – H.C.
Robert Bly
(1926-2021)
Poem in Three Parts
I
Oh, on an early
morning I think I shall live forever!
I am wrapped in my
joyful flesh,
and the grass is
wrapped in its cloud of green.
II
Rising from a bed
where I dreamt
Of long rides past
castles and hot coals,
The sun lies happily
on my knees;
I have suffered and
survived the night,
Bathed in dark water,
like any blade of grass.
III
The strong leaves of
the box elder tree,
Plunging in the wind,
call us to disappear
Into the wilds of the
universe,
Where we shall sit at
the foot of a plant,
And live forever,
like the dust.
Vento de Abril
(Andrew Wyeth: pintor
norte-americano)
Poema em Três Partes
I
Ah, numa manhã como
essa eu penso que vou viver para sempre!
Estou envolto em
minha carne mágica,
Como a grama está
envolta em suas nuvens verdes.
II
Levantando da cama,
onde sonhei
Longos passeios,
castelos e carvões vermelhos,
O sol bate
alegremente em meus joelhos;
Sofri e sobrevivi à
noite
Banhado em água
turva, como um tufo de grama qualquer.
III
As folhas fortes do
bordo
Mergulhando nos
ventos, nos convidam ao desaparecimento
Nas selvas do
universo,
Onde deveremos sentar
ao pé de uma planta
E viver para sempre
como pó.
Referência:
BLY, Robert. Poem in
three parts / Poema em três partes. Tradução de Luiz Olavo Fontes. In: KEYS,
Kerry Shawn (Ed.). Quingumbo: new north american poetry / nova poesia
norte-americana. Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Escrita, 1980. Em inglês:
p. 126; em português: p. 127.
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