Nestas linhas que
descrevem uma cena de música e de dança, o poeta nos leva a refletir sobre a
existência de conexão e de transcendência dos vivos com os mortos: alguns
versos se repetem, como que a emular o ciclo contínuo da roda da vida, de suas teias
– não um ciclo de peremptório remate, senão um volteio restaurativo, renovador,
em assídua comunhão com nossos antepassados.
A roda como símbolo
cósmico, do mundo do porvir, da incessante criação, dos reinícios, e, ao mesmo
tempo, do contingente e do perecível. Roda interminável do fenomênico, das
transformações: a beleza efêmera desta existência, na qual os mortos “bailam” a
acompanhar nossos passos, passos esses que, por sua vez, integram-se ao ritmo
do momento.
J.A.R. – H.C.
Wendell Berry
(n. 1934)
The Wheel
At the first strokes
of the fiddle bow
the dancers rise from
their seats.
The dance begins to
shape itself
in the crowd, as
couples join,
and couples join
couples, their movement
together lightening
their feet.
They move in the
ancient circle
of the dance. The dance
and the song
call each other into
being. Soon
they are one – rapt
in a single
rapture, so that even
the night
has its clarity, and
time
is the wheel that
brings it round.
In this rapture the
dead return.
Sorrow is gone from
them.
They are light. They
step
into the steps of the
living
and turn with them in
the dance
in the sweet
enclosure
of the song, and
timeless
is the wheel that
brings it round.
Dança
(Henri Matisse:
pintor francês)
A Roda
Aos primeiros toques
do arco do violino
os dançarinos
erguem-se de seus assentos.
A dança começa a
tomar forma
entre o grupo, à
medida que casais se juntam,
e casais se juntam a
outros casais, num movimento
conjunto a dar leveza
aos seus pés.
Eles se movem no
antigo círculo
da dança. A dança e a
canção
convocam-se mutuamente a existir. De pronto,
todos se tornam um só
– arrebatados num único
êxtase, de modo que
até mesmo a noite
tem o seu alvor, e o
tempo
é a roda que os faz
girar.
Nesse arrebatamento,
regressam os mortos.
A tristeza deles se afastou.
Eles são leves. Seguem
os passos dos vivos
e giram com eles na
dança,
no doce cerco
da canção, e eterna
é a roda que os faz
girar.
Referência:
BERRY, Wendell. The wheel.
In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to reading
and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p.
168-169.
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