Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 12 de junho de 2024

Wendell Berry - A Roda

Nestas linhas que descrevem uma cena de música e de dança, o poeta nos leva a refletir sobre a existência de conexão e de transcendência dos vivos com os mortos: alguns versos se repetem, como que a emular o ciclo contínuo da roda da vida, de suas teias – não um ciclo de peremptório remate, senão um volteio restaurativo, renovador, em assídua comunhão com nossos antepassados.

 

A roda como símbolo cósmico, do mundo do porvir, da incessante criação, dos reinícios, e, ao mesmo tempo, do contingente e do perecível. Roda interminável do fenomênico, das transformações: a beleza efêmera desta existência, na qual os mortos “bailam” a acompanhar nossos passos, passos esses que, por sua vez, integram-se ao ritmo do momento.

 

J.A.R. – H.C.

 

Wendell Berry

(n. 1934)

 

The Wheel

 

At the first strokes of the fiddle bow

the dancers rise from their seats.

The dance begins to shape itself

in the crowd, as couples join,

and couples join couples, their movement

together lightening their feet.

They move in the ancient circle

of the dance. The dance and the song

call each other into being. Soon

they are one – rapt in a single

rapture, so that even the night

has its clarity, and time

is the wheel that brings it round.

In this rapture the dead return.

Sorrow is gone from them.

They are light. They step

into the steps of the living

and turn with them in the dance

in the sweet enclosure

of the song, and timeless

is the wheel that brings it round.

 

Dança

(Henri Matisse: pintor francês)

 

A Roda

 

Aos primeiros toques do arco do violino

os dançarinos erguem-se de seus assentos.

A dança começa a tomar forma

entre o grupo, à medida que casais se juntam,

e casais se juntam a outros casais, num movimento

conjunto a dar leveza aos seus pés.

Eles se movem no antigo círculo

da dança. A dança e a canção

convocam-se mutuamente a existir. De pronto,

todos se tornam um só – arrebatados num único

êxtase, de modo que até mesmo a noite

tem o seu alvor, e o tempo

é a roda que os faz girar.

Nesse arrebatamento, regressam os mortos.

A tristeza deles se afastou.

Eles são leves. Seguem

os passos dos vivos

e giram com eles na dança,

no doce cerco

da canção, e eterna

é a roda que os faz girar.

 

Referência:

 

BERRY, Wendell. The wheel. In: MAYES, Frances. The discovery of poetry: a field guide to reading and writing poems. 1st Harvest ed. San Diego, CA: Harvest & Harcout, 2001. p. 168-169.

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