Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 18 de junho de 2024

Márcio Catunda Gomes - Arte Poética

A poesia é tanto uma misteriosa manifestação do espírito, a vogar nos oceanos da imaginação, que as mais expressivas acepções que se lhe possam fazer jus são originárias da... própria poesia: não que ela se prenda à “circularidade” – como diz o poeta –, senão porque a magia verbal em que encapsulada, o manejo das palavras para produzir os tencionados efeitos na mente do leitor, não se prendem a rígidas leis, pois que pelas águas do assombro navega o seu batel.

 

Eis a “mais libertina das artes”, naquilo que dá voz ao pensamento criativo sem amarras, sem descuidar das pautas da linguagem: uma terapia para fazer vibrar as “cordas da essência”, um m.d.c. em potencial para o qual confluem todos os pincéis daqueles que, intentando representar numa tela as perplexidades por meio das quais o mundo se nos revela, acabam por encontrar a rosa mesma da beleza.

 

J.A.R. – H.C.

 

Márcio Catunda Gomes

(n. 1957)

 

Arte Poética

 

A poesia, a mais libertina das artes,

dá cambalhotas, dança no trapézio,

veste andrajos nos salões.

Só tem por limite o ilimitado.

Não tem arestas nem se prende à circularidade.

salta sobre as muralhas do jardim de Apolo.

A Dionísio faz curvar-se, cerimonioso.

Tem de Narciso o inatacável riso.

O lampejo fluido da música

e a concretude da iconografia.

Alimenta-se da experiência

e quanto toca em si transforma.

Bebe a luz do nada e vibra nas cordas da essência,

em ressonância de nervos e neurônios.

 

O circo

(Marc Chagall: pintor bielorrusso-francês)

 

Referência:

 

GOMES, Márcio Catunda. Arte poética. In: __________. Plenitude visionária: poemas selecionados. Lisboa, PT: Companhia das Musas, 2007. p. 56.

Nenhum comentário:

Postar um comentário