Esta é uma lição
fabular para a perversidade do silêncio, quando imposto de fora para dentro, como resultante de uma censura de ordem política, a exemplo das que assaz acontecem em
regimes despóticos ou autocráticos, como se a intenção fosse ratificar a ideia
de que “ruim com a imprensa, pior sem ela”.
Forçar a natureza e
as pessoas a ficarem em silêncio é contorcer-lhes a vontade e, mais do que
isso, um levante que se açoda na cidadela interior, de onde os coagidos poderão
extrair a sua força para ir de encontro aos desmandos da figura tirânica, nem
que para isso, em muitos dos casos, venham a encontrar a morte.
J.A.R. – H.C.
Tymoteusz Karpowicz
(1921-2005)
Lekcja ciszy
Gdy motyl
Zbyt gwałtownie
Czasem złożył skrzydła –
Wołano: proszę o spokój!
Zaledwie piórko
Spłoszonego ptaka
Trąciło o promień –
Wołano: proszę o ciszę!
Tak nauczono
Bezszelestnie chodzić
Słonia po bębnie,
Człowieka po ziemi.
Wstawały drzewa
bez szumu nad polem
tak jak powstają
włosy z przerażenia.
Od: “Gorzkie źródła” (1957)
O caçador de
borboletas
(Carl Spitzweg: pintor
alemão)
Uma lição de silêncio
Quando uma borboleta
batia suas asas
forte de mais, gritavam-lhe:
Silêncio, por favor!
Se um pássaro
assustado
roçava a pluma num
raio de sol,
gritavam-lhe:
Silêncio, por favor!
Assim os elefantes
aprenderam a andar
sem som sobre o
tambor –
os homens, sobre a
terra.
As árvores nos campos
se erguiam silenciosas
como os cabelos
quando
se eriçam de terror.
Em: “Fontes amargas”
(1957)
Referências:
Em Polonês
KARPOWICZ, Tymoteusz.
Lekcja ciszy. In: __________. Dzieła zebrane. T. 1. Wroclaw, PL: Biuro
Literackie, 2011. s. 53.
Em Português
KARPOWICZ, Tymoteusz.
Uma lição de silêncio. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução
e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro,
RJ: Imago, 1998. p. 348. (Coleção “Lazuli”)
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