Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 7 de abril de 2024

Tymoteusz Karpowicz - Uma lição de silêncio

Esta é uma lição fabular para a perversidade do silêncio, quando imposto de fora para dentro, como resultante de uma censura de ordem política, a exemplo das que assaz acontecem em regimes despóticos ou autocráticos, como se a intenção fosse ratificar a ideia de que “ruim com a imprensa, pior sem ela”.

 

Forçar a natureza e as pessoas a ficarem em silêncio é contorcer-lhes a vontade e, mais do que isso, um levante que se açoda na cidadela interior, de onde os coagidos poderão extrair a sua força para ir de encontro aos desmandos da figura tirânica, nem que para isso, em muitos dos casos, venham a encontrar a morte.

 

J.A.R. – H.C.

 

Tymoteusz Karpowicz

(1921-2005)

 

Lekcja ciszy

 

Gdy motyl

Zbyt gwałtownie

Czasem złożył skrzydła –

Wołano: proszę o spokój!

 

Zaledwie piórko

Spłoszonego ptaka

Trąciło o promień

Wołano: proszę o ciszę!

 

Tak nauczono

Bezszelestnie chodzić

Słonia po bębnie,

Człowieka po ziemi.

 

Wstawały drzewa

bez szumu nad polem

tak jak powstają

włosy z przerażenia.

 

Od: “Gorzkie źródła” (1957)

 

O caçador de borboletas

(Carl Spitzweg: pintor alemão)

 

Uma lição de silêncio

 

Quando uma borboleta

batia suas asas

forte de mais, gritavam-lhe:

Silêncio, por favor!

 

Se um pássaro assustado

roçava a pluma num

raio de sol, gritavam-lhe:

Silêncio, por favor!

 

Assim os elefantes

aprenderam a andar

sem som sobre o tambor –

os homens, sobre a terra.

 

As árvores nos campos

se erguiam silenciosas

como os cabelos quando

se eriçam de terror.

 

Em: “Fontes amargas” (1957)

 

Referências:

 

Em Polonês

 

KARPOWICZ, Tymoteusz. Lekcja ciszy. In: __________. Dzieła zebrane. T. 1. Wroclaw, PL: Biuro Literackie, 2011. s. 53.

 

Em Português

 

KARPOWICZ, Tymoteusz. Uma lição de silêncio. Tradução de Nelson Ascher. In: ASCHER, Nelson (Tradução e Organização). Poesia alheia: 124 poemas traduzidos. Rio de Janeiro, RJ: Imago, 1998. p. 348. (Coleção “Lazuli”)

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