Savary declina suas
preferências em relação ao ideal de homem capaz de desencadear suas paixões,
não exatamente aquele ainda verdoengo, mas o maduro, até já passado do ponto:
atravessado por um indisputável viés erótico, o poema recorre a metáforas sinestésicas,
a começar pela que lhe dá título – “Frutos” –, como iguaria a despertar o
paladar nesse banquete do amor.
A julgar pela seleta
de onde transcritos os presentes versos, o sensual e o lúbrico é como que uma presença
assídua na obra da poetisa paraense, deslindando a potente força do desejo, em
meio a linhas entremeadas, com alguma frequência, por palavras recolhidas ao exótico
vocabulário empregado pela gente amazônica.
J.A.R. – H.C.
Olga Savary
(1933-2020)
Frutos
Não me agradam os
frutos ainda verdes.
Aquele que me agrada
é belo como
um fruto maduro, até
passado.
O que me agrada tem
na saliva
o odor da seiva da
caneleira.
O que me agrada ruge
palavras
– estas – secretas e
devassas.
Aquele que amo
desencadeia
em mim e nele esta
paixão
na interpretação de
seda
e violência.
O que me agrada, toda
úmida,
me faz bela como
nenhuma outra,
tendo minhas pernas
coroando
suas ilhargas.
Estilo de vida sexual
(Attila Kővári: artista húngaro)
Referência:
SAVARY, Olga. Frutos.
In: __________. Coração subterrâneo: poemas escolhidos. Posfácio de
Laura Erber. 1. ed. São Paulo, SP: Todavia, 2021. p. 71.
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