Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Olga Savary - Frutos

Savary declina suas preferências em relação ao ideal de homem capaz de desencadear suas paixões, não exatamente aquele ainda verdoengo, mas o maduro, até já passado do ponto: atravessado por um indisputável viés erótico, o poema recorre a metáforas sinestésicas, a começar pela que lhe dá título – “Frutos” –, como iguaria a despertar o paladar nesse banquete do amor.

 

A julgar pela seleta de onde transcritos os presentes versos, o sensual e o lúbrico é como que uma presença assídua na obra da poetisa paraense, deslindando a potente força do desejo, em meio a linhas entremeadas, com alguma frequência, por palavras recolhidas ao exótico vocabulário empregado pela gente amazônica.

 

J.A.R. – H.C.

 

Olga Savary

(1933-2020)

 

Frutos

 

Não me agradam os frutos ainda verdes.

Aquele que me agrada é belo como

um fruto maduro, até passado.

O que me agrada tem na saliva

o odor da seiva da caneleira.

O que me agrada ruge palavras

– estas – secretas e devassas.

Aquele que amo desencadeia

em mim e nele esta paixão

na interpretação de seda

e violência.

O que me agrada, toda úmida,

me faz bela como nenhuma outra,

tendo minhas pernas coroando

suas ilhargas.

 

Estilo de vida sexual

(Attila Kővári: artista húngaro)

 

Referência:

 

SAVARY, Olga. Frutos. In: __________. Coração subterrâneo: poemas escolhidos. Posfácio de Laura Erber. 1. ed. São Paulo, SP: Todavia, 2021. p. 71.

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