Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 21 de abril de 2024

Derek Walcott - Mapa do Novo Mundo: Arquipélagos

Tudo nestes versos de Walcott é alusão ao término da Guerra de Troia, enredo da Ilíada de Homero (928 a.C - ~898 a.C.), e o que, em sequência, se narra no regresso de Odisseu (ou Ulisses) a Ítaca, sua terra natal, na Odisseia: nem se descuida o poeta em sublinhar o fato de que Homero teria sido um aedo, ou melhor, um cego rapsodo que recitava suas composições ao toque de uma lira.

 

O clima do poema reflete quer o estado funesto e plangente associado à devastada urbe de Troia, quer o tempo meteorológico embaçado e chuviscante a envolver as ilhas gregas – presumivelmente as do lado leste, no mar Egeu, onde se localizam muitos dos centros portuários que deram notabilidade à histórica vocação marítima do país.

 

J.A.R. – H.C.

 

Derek Walcott

(1930-2017)

 

Map of the New World: Archipelagoes

 

At the end of this sentence, rain will begin.

At the rain’s edge, a sail.

 

Slowly the sail will lose sight of islands;

into a mist will go the belief in harbours

of an entire race.

 

The ten-years war is finished.

Helen’s hair, a grey cloud.

Troy, a white ashpit

by the drizzling sea.

 

The drizzle tightens like the strings of a harp.

A man with clouded eyes picks up the rain

and plucks the first line of the Odyssey.

 

Embarcações em perigo numa costa rochosa

(Ludolf Backhuysen: pintor germano-holandês)

 

Mapa do Novo Mundo: Arquipélagos

 

Ao final desta oração, começará a chuva.

À borda da chuva, um veleiro.

 

Lentamente o veleiro perderá as ilhas de vista;

num nevoeiro soçobrará a crença nos portos

de toda uma raça.

 

A guerra dos dez anos chegou ao fim.

Os cabelos de Helena, uma nuvem gris.

Troia, um depósito de cinzas brancas

junto ao mar chuviscante.

 

A garoa aperta como as cordas de uma harpa.

Um homem com olhos enevoados recolhe a chuva

e dedilha a primeira linha da Odisseia.

 

Referência:

 

In: BENSON, Gerard; CHERNAIK, Judith; HERBERT, Cicely (Eds.). Best ‎‎poems on the underground. 1st. publ. London, EN: Weidenfeld & Nicolson, ‎‎2009. p. 281.

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