Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 14 de abril de 2024

Ferreira Gullar - Meu povo, meu poema

O povo brasileiro é o destinatário de um plantio alegórico em forma de poema e, ao mesmo tempo, o objeto a quem a voz lírica expressa suas expectativas de futuro, de retomada de um processo capaz de firmar garantias de atingimento de um maior equilíbrio social e – por que não dizer? – político-econômico em Pindorama.

 

Note-se que o poema pertence a um período produtivo do poeta que coincide com a dureza do regime autoritário, vigente no país desde o golpe militar de 1964, e tal enquadramento muito condiciona a mirada de quem o lê nos dias que correm, muito embora quase não se percebam em suas linhas os consectários elementos de ordem política, do momento em que escrito.

 

J.A.R. – H.C.

 

Ferreira Gullar

(1930-2016)

 

Meu povo, meu poema

 

Meu povo e meu poema crescem juntos

como cresce no fruto

a árvore nova

 

No povo meu poema vai nascendo

como no canavial

nasce verde o açúcar

 

No povo meu poema está maduro

como o sol

na garganta do futuro

 

Meu povo em meu poema

se reflete

como a espiga se funde em terra fértil

 

Ao povo seu poema aqui devolvo

menos como quem canta

do que planta

 

Em: “Dentro da noite veloz” (1962-1974)

 

Homem colhendo o fruto de uma árvore

(Paul Gauguin: pintor francês)

 

Referência:

 

GULLAR, Ferreira. Meu povo, meu poema. In: __________. Toda poesia. 21. ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 2015. p. 201.

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