O povo brasileiro é o
destinatário de um plantio alegórico em forma de poema e, ao mesmo tempo, o objeto
a quem a voz lírica expressa suas expectativas de futuro, de retomada de um
processo capaz de firmar garantias de atingimento de um maior equilíbrio social e – por que não dizer? – político-econômico em Pindorama.
Note-se que o poema
pertence a um período produtivo do poeta que coincide com a dureza do regime autoritário,
vigente no país desde o golpe militar de 1964, e tal enquadramento muito
condiciona a mirada de quem o lê nos dias que correm, muito embora quase não se
percebam em suas linhas os consectários elementos de ordem política, do momento em
que escrito.
J.A.R. – H.C.
Ferreira Gullar
(1930-2016)
Meu povo, meu poema
Meu povo e meu poema
crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova
No povo meu poema vai
nascendo
como no canavial
nasce verde o açúcar
No povo meu poema
está maduro
como o sol
na garganta do futuro
Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga se
funde em terra fértil
Ao povo seu poema
aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta
Em: “Dentro da noite
veloz” (1962-1974)
Homem colhendo o
fruto de uma árvore
(Paul Gauguin: pintor
francês)
Referência:
GULLAR, Ferreira. Meu
povo, meu poema. In: __________. Toda poesia. 21. ed. revista e ampliada.
Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 2015. p. 201.
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