Como bem o observa o literato
brasileiro Péricles Eugênio da Silva Ramos (1985, n.r., p. 67), Keats, nesta ode,
foge aos lugares-comuns sobre o outono, ao associar ideias de madureza, de
lazer e de esplendor à despedida da tarde, sequencialmente, a cada uma de suas
estrofes, tornando-as, segundo alguns ilustrados, um dos mais perfeitos poemas do
poeta inglês – “o que não significa,
todavia, que seja o mais importante”.
Entre a abundância e
a caducidade, a beleza atinge o seu auge pouco antes de desaparecer em meio à
transição sazonal para o inverno, ao longo da qual se escuta uma música viva, embora,
ao mesmo tempo, merencória, tudo porque, a suceder o enlace do passado com os
dias que se anunciam, a sombra da morte lança aos poucos o seu império.
J.A.R. – H.C.
John Keats
(1795-1821)
(Retrato de Keats por
Joseph Severn)
To Autumn
Season of mists and
mellow fruitfulness,
Close bosom-friend of
the maturing sun;
Conspiring with him
how to load and bless
With fruit the vines
that round the thatch-eves run;
To bend with apples
the moss’d cottage-trees,
And fill all fruit
with ripeness to the core;
To swell the gourd,
and plump the hazel shells
With a sweet kernel;
to set budding more,
And still more, later
flowers for the bees,
Until they think warm
days will never cease,
For summer has o’er-brimm’d
their clammy cells.
Who hath not seen
thee oft amid thy store?
Sometimes whoever
seeks abroad may find
Thee sitting careless
on a granary floor,
Thy hair soft-lifted
by the winnowing wind;
Or on a half-reap’d
furrow sound asleep,
Drows’d with the fume
of poppies, while thy hook
Spares the next swath
and all its twined flowers:
And sometimes like a
gleaner thou dost keep
Steady thy laden head
across a brook;
Or by a cyder-press,
with patient look,
Thou watchest the
last oozings hours by hours.
Where are the songs
of spring? Ay, Where are they?
Think not of them,
thou hast thy music too, –
While barred clouds
bloom the soft-dying day,
And touch the
stubble-plains with rosy hue;
Then in a wailful
choir the small gnats mourn
Among the river
sallows, borne aloft
Or sinking as the
light wind lives or dies;
And full-grown lambs
loud bleat from hilly bourn;
Hedge-crickets sing;
and now with treble soft
The red-breast
whistles from a garden-croft;
And gathering
swallows twitter in the skies.
Floresta no Outono
(Gustave Courbet:
pintor francês)
Ode ao Outono
Estação de neblinas,
doce e fecunda!
Companheira íntima do
sol, com ele vais,
Quando ele abençoa e
inunda
De frutos as videiras
junto dos beirais;
Pra vergar de maçãs a
musgosa macieira
E a fruta por inteiro
tornar madura
Pra inchar as
cabaças, pra avelã ficar gorda
Com uma doce amêndoa;
há flores com fartura
Pra que a abelha as
tenha sempre que queira
E pense haver dias
quentes a vida inteira,
Pois o Verão seus
favos pegajosos transborda.
Quem não te viu já de
fartura rodeado?
Às vezes, quem te
procura sob outros céus,
No chão dum celeiro
encontra-te descuidado,
O vento da limpeza
ergue-te os cabelos.
Ou num rego
meio-ceifado, em fundo torpor,
Tonto do perfume das
papoulas, parada
A foice, junto da
ceara a ceifar te demoras;
Às vezes, tens
direita, qual rebuscador,
A pesada cabeça, ao
passar a ribeira;
Ou, junto de a
prensa, observas tranquilo
A cidra a gotejar no
fluir das horas.
Que é das canções da
Primavera? Onde hão-de estar?
Esquece-as, tua
música também tem valor –
Nuvens orlam o dia
morrendo devagar
Tingem os restolhos
de sua rósea cor;
De os mosquitos a
dorida serrazina,
Crescente, entre os
salgueiros do rio se ouvia,
Diminuindo, se o
vento fica mais brando;
Os cordeiros balem na
próxima colina;
Cantam grilos, alto,
mas cheios de harmonia,
Num quintal, pisco
vermelho assobia;
E as andorinhas chilreiam
nos céus em bando.
Referências:
Em Inglês:
KEATS, John. To autumn. In: __________. The poetical works of John Keats. Edited by
William T. Arnold. London, EN: Kegan Paul, Trench & Co., 1884. p. 248-249.
Disponível neste
endereço. Acesso em: 2 abr. 2024.
Em Português
KEATS, John. Ode ao outono. Tradução de António Simões. In: SIMÕES,
António (Compilação e Tradução). Antologia de poesia
anglo-americana: de Chaucer a Dylan Thomas. Porto, PT: Campo
das Letras, 2002. p. 239-241.
KEATS, John. Poemas de John Keats. Tradução, introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São
Paulo, SP: Art Editora, 1985.
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