Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 9 de abril de 2024

John Keats - Ode ao Outono

Como bem o observa o literato brasileiro Péricles Eugênio da Silva Ramos (1985, n.r., p. 67), Keats, nesta ode, foge aos lugares-comuns sobre o outono, ao associar ideias de madureza, de lazer e de esplendor à despedida da tarde, sequencialmente, a cada uma de suas estrofes, tornando-as, segundo alguns ilustrados, um dos mais perfeitos poemas do poeta inglês – “o que não significa, todavia, que seja o mais importante”.

 

Entre a abundância e a caducidade, a beleza atinge o seu auge pouco antes de desaparecer em meio à transição sazonal para o inverno, ao longo da qual se escuta uma música viva, embora, ao mesmo tempo, merencória, tudo porque, a suceder o enlace do passado com os dias que se anunciam, a sombra da morte lança aos poucos o seu império.

 

J.A.R. – H.C.

 

John Keats

(1795-1821)

(Retrato de Keats por Joseph Severn)

 

To Autumn

 

Season of mists and mellow fruitfulness,

Close bosom-friend of the maturing sun;

Conspiring with him how to load and bless

With fruit the vines that round the thatch-eves run;

To bend with apples the moss’d cottage-trees,

And fill all fruit with ripeness to the core;

To swell the gourd, and plump the hazel shells

With a sweet kernel; to set budding more,

And still more, later flowers for the bees,

Until they think warm days will never cease,

For summer has o’er-brimm’d their clammy cells.

 

Who hath not seen thee oft amid thy store?

Sometimes whoever seeks abroad may find

Thee sitting careless on a granary floor,

Thy hair soft-lifted by the winnowing wind;

Or on a half-reap’d furrow sound asleep,

Drows’d with the fume of poppies, while thy hook

Spares the next swath and all its twined flowers:

And sometimes like a gleaner thou dost keep

Steady thy laden head across a brook;

Or by a cyder-press, with patient look,

Thou watchest the last oozings hours by hours.

 

Where are the songs of spring? Ay, Where are they?

Think not of them, thou hast thy music too, –

While barred clouds bloom the soft-dying day,

And touch the stubble-plains with rosy hue;

Then in a wailful choir the small gnats mourn

Among the river sallows, borne aloft

Or sinking as the light wind lives or dies;

And full-grown lambs loud bleat from hilly bourn;

Hedge-crickets sing; and now with treble soft

The red-breast whistles from a garden-croft;

And gathering swallows twitter in the skies.

 

Floresta no Outono

(Gustave Courbet: pintor francês)

 

Ode ao Outono

 

Estação de neblinas, doce e fecunda!

Companheira íntima do sol, com ele vais,

Quando ele abençoa e inunda

De frutos as videiras junto dos beirais;

Pra vergar de maçãs a musgosa macieira

E a fruta por inteiro tornar madura

Pra inchar as cabaças, pra avelã ficar gorda

Com uma doce amêndoa; há flores com fartura

Pra que a abelha as tenha sempre que queira

E pense haver dias quentes a vida inteira,

Pois o Verão seus favos pegajosos transborda.

 

Quem não te viu já de fartura rodeado?

Às vezes, quem te procura sob outros céus,

No chão dum celeiro encontra-te descuidado,

O vento da limpeza ergue-te os cabelos.

Ou num rego meio-ceifado, em fundo torpor,

Tonto do perfume das papoulas, parada

A foice, junto da ceara a ceifar te demoras;

Às vezes, tens direita, qual rebuscador,

A pesada cabeça, ao passar a ribeira;

Ou, junto de a prensa, observas tranquilo

A cidra a gotejar no fluir das horas.

 

Que é das canções da Primavera? Onde hão-de estar?

Esquece-as, tua música também tem valor –

Nuvens orlam o dia morrendo devagar

Tingem os restolhos de sua rósea cor;

De os mosquitos a dorida serrazina,

Crescente, entre os salgueiros do rio se ouvia,

Diminuindo, se o vento fica mais brando;

Os cordeiros balem na próxima colina;

Cantam grilos, alto, mas cheios de harmonia,

Num quintal, pisco vermelho assobia;

E as andorinhas chilreiam nos céus em bando.

 

Referências:

 

Em Inglês:

 

KEATS, John. To autumn. In: __________. The poetical works of John Keats. Edited by William T. Arnold. London, EN: Kegan Paul, Trench & Co., 1884. p. 248-249. Disponível neste endereço. Acesso em: 2 abr. 2024.

 

Em Português

 

KEATS, John. Ode ao outono. Tradução de António Simões. In: SIMÕES, António (Compilação e Tradução). Antologia de poesia anglo-americana: de Chaucer a Dylan Thomas. Porto, PT: Campo das Letras, 2002. p. 239-241.

 

KEATS, John. Poemas de John Keats. Tradução, introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo, SP: Art Editora, 1985.

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