Sendo uma poetisa
indiano-canadense, Kaur não sente quaisquer constrangimentos ou inseguranças
que possam advir de seu sotaque diferenciado, ao contrário, reafirma o orgulho
que dele tem, por representar o encontro entre culturas de dois países
distantes – ou como dizem suas próprias palavras: “o que importa se minha boca
carrega dois mundos?”
É que a maneira como Kaur
se expressa acaba por refletir parte do que ela é, e apreciá-la representa a
forma de se autoafirmar em equilíbrio: observe-se que a poetisa emprega o termo
“offspring” – “descendência” – para equiparar o seu sotaque a uma espécie de rebento
tangido por certa singularidade, singularidade essa que bem se congraça às
linhas de seu rosto.
J.A.R. – H.C.
Rupi Kaur
(n. 1992)
accent
my voice
is the offspring
of two countries
colliding
what is there to be
ashamed of
if english
and my mother tongue
made love
my voice
is her father’s words
and mother’s accent
what does it matter
if
my mouth carries two
worlds
O cisne
(Hilma af Klint:
artista sueca)
sotaque
minha voz
é o fruto
de dois países num
encontro
por que eu teria
vergonha
se o inglês
e minha língua-mãe
fizeram amor
minha voz
tem as palavras do
pai
e o sotaque da mãe
o que tem de errado
se minha boca leva
dois mundos
Referências:
Em Inglês
KAUR, Rupi. accent.
In: __________. the sun and her flowers. 1st. ed. New York, N.Y.: Simon
& Schuster, 2017. p. 139.
Em Português
KAUR, Rupi. sotaque.
Tradução de Ana Guadalupe. In: __________. o que o sol faz com as flores.
Tradução de Ana Guadalupe. 6. ed. São Paulo, SP: Planeta do Brasil, 2018. p. 139.
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