A vida segue de um
modo ou de outro, em tempos de guerra ou de paz, de terror político e de
tortura ou de respeito aos direitos humanos – e nessa alternância de
levantamentos de muros e de suas derrubadas, a despeito de a maioria não
concorrer para tanto, o ódio reflui com certa frequência pelos quatro cantos do
planeta.
Ademais, sofre a
humanidade deveras com seus próprios vícios, com as enfermidades que se
multiplicam ante a falta de cuidados – aids, viroses, cânceres etc. –, tudo
isso a compor o amálgama que entenebrece o estado d’alma do falante, somente
lhe restando de positivo o que, para muitos, já pouco ou nenhum significado
tem: o amor e a poesia.
J.A.R. – H.C.
Pedro Shimose
(n. 1940)
La Vida me Está
Matando
Ya no me persigue el
terror político
con su rayo láser,
ni los prójimos me
aman
con su palo y su
picana eléctrica.
Ya no me ofende la
Declaración Universal
de los Derechos
Humanos,
ni la bomba me quita
el sueño,
ni siquiera los
disparos
de una guerrita en África
o Europa,
¡qué más da!
Caen los muros,
crecen los lamentos.
Y el odio vuelve
con sus ángeles
violentos.
El Sur sigue donde
estaba.
No nos portamos mal
(es evidente)
y todos tan
contentos,
constitucionalmente.
Esta vida me sobra
con su nicotina,
con su infarto y su
cáncer,
con su miedo al sida
y las jeringas.
Sólo el amor
y la poesía
pueden ser míos
cuando a nadie parece
ya importarle
el amor
y
la poesía.
Natureza-morta com
laranjas
(Oskar Moll: pintor
alemão)
A Vida Está me
Matando
O terror político já
não me assombra mais
com seus raios a
laser,
nem os semelhantes me
amam
com seus porretes e aguilhões
elétricos.
Já não me ofende a
Declaração Universal
dos Direitos Humanos,
nem a bomba me tira o
sono,
tampouco os disparos
de uma guerrinha em
África ou na Europa;
que diferença isso
faz!
Caem os muros,
crescem os lamentos.
E o ódio regressa
com seus anjos
violentos.
O Sul permanece onde sempre
esteve.
Não nos comportamos
mal
(é evidente)
e todos tão
contentes,
constitucionalmente.
Esta vida é demais
para mim
com sua nicotina,
com seu enfarte e seu
câncer,
com seu medo à aids e
às seringas.
Só o amor
e a poesia
podem ser meus,
quando já a ninguém
parece importar
o amor
e
a poesia.
Referência:
SHIMOSE, Pedro. La vida me está matando. In: EISNER, Mark; ESCAJA, Tina (Eds.). Resistencia: poems of protest and revolution. Introduction by Julia Alvarez. A multilingual edition with english translations. Portland, OR: Tin House, 2020. p.103.
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