Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Pedro Shimose - A Vida Está me Matando

A vida segue de um modo ou de outro, em tempos de guerra ou de paz, de terror político e de tortura ou de respeito aos direitos humanos – e nessa alternância de levantamentos de muros e de suas derrubadas, a despeito de a maioria não concorrer para tanto, o ódio reflui com certa frequência pelos quatro cantos do planeta.

 

Ademais, sofre a humanidade deveras com seus próprios vícios, com as enfermidades que se multiplicam ante a falta de cuidados – aids, viroses, cânceres etc. –, tudo isso a compor o amálgama que entenebrece o estado d’alma do falante, somente lhe restando de positivo o que, para muitos, já pouco ou nenhum significado tem: o amor e a poesia.

 

J.A.R. – H.C.

 

Pedro Shimose

(n. 1940)

 

La Vida me Está Matando

 

Ya no me persigue el terror político

con su rayo láser,

ni los prójimos me aman

con su palo y su picana eléctrica.

 

Ya no me ofende la Declaración Universal

de los Derechos Humanos,

ni la bomba me quita el sueño,

ni siquiera los disparos

de una guerrita en África o Europa,

¡qué más da!

 

Caen los muros,

crecen los lamentos.

Y el odio vuelve

con sus ángeles violentos.

El Sur sigue donde estaba.

No nos portamos mal

(es evidente)

y todos tan contentos,

constitucionalmente.

 

Esta vida me sobra

con su nicotina,

con su infarto y su cáncer,

con su miedo al sida y las jeringas.

Sólo el amor

y la poesía

pueden ser míos

cuando a nadie parece ya importarle

el amor

y

la poesía.

 

Natureza-morta com laranjas

(Oskar Moll: pintor alemão)

 

A Vida Está me Matando

 

O terror político já não me assombra mais

com seus raios a laser,

nem os semelhantes me amam

com seus porretes e aguilhões elétricos.

 

Já não me ofende a Declaração Universal

dos Direitos Humanos,

nem a bomba me tira o sono,

tampouco os disparos

de uma guerrinha em África ou na Europa;

que diferença isso faz!

 

Caem os muros,

crescem os lamentos.

E o ódio regressa

com seus anjos violentos.

O Sul permanece onde sempre esteve.

Não nos comportamos mal

(é evidente)

e todos tão contentes,

constitucionalmente.

 

Esta vida é demais para mim

com sua nicotina,

com seu enfarte e seu câncer,

com seu medo à aids e às seringas.

Só o amor

e a poesia

podem ser meus,

quando já a ninguém parece importar

o amor

e

a poesia.

 

Referência:

 

SHIMOSE, Pedro. La vida me está matando. In: EISNER, Mark; ESCAJA, Tina (Eds.). Resistencia: poems of protest and revolution. Introduction by Julia Alvarez. A multilingual edition with english translations. Portland, OR: Tin House, 2020. p.103.

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