Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Ricardo Aleixo - Loa para um dia a mais

No embate entre dois estados de matéria – a água líquida e a pedra sólida –, tais constituintes encontram parte de suas autodefinições, de suas correspondentes naturezas essenciais: a água a discernir muito bem a textura das pedras que tocou ao longo de seu itinerário, a pedra a incorporar o lento e constante fluir da água por sobre a sua superfície.

 

Água e pedra, nesse contexto, são como que duas energias opostas e complementares, a saber, como o yin e o yang da filosofia taoísta: aquela a objetivar o princípio feminino – fonte de vida –; esta o masculino – de cujas entranhas brota água em abundância, neste caso muito a lembrar o jorro líquido proveniente da rocha, quando tocada pelo cajado de Moisés (Núm. 20: 11).

 

J.A.R. – H.C.

 

Ricardo Aleixo

(n. 1960)

 

Loa para um dia a mais

 

1.

 

sem poder

quebrar a pedra

 

a água esculpe

na pedra

 

o que há de pedra

esquecido

 

no seu quem

próprio

 

de

água

 

2.

 

sem poder

deter a água

 

a pedra enfim

reconhece

 

no gesto

lento

 

e constante

da água

 

seu quem

de pedra

 

Pedras na água

(Ewa Helzen: artista sueca)

 

Referência:

 

ALEIXO, Ricardo. Loa para um dia a mais. In: LAVELLE, Patrícia; BRITTO, Paulo Henriques (Orgs.). O nervo do poema: antologia para Orides Fontela. Belo Horizonte, BH: Relicário, 2018. p. 133-134.

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