No embate entre dois
estados de matéria – a água líquida e a pedra sólida –, tais constituintes
encontram parte de suas autodefinições, de suas correspondentes naturezas essenciais:
a água a discernir muito bem a textura das pedras que tocou ao longo de seu
itinerário, a pedra a incorporar o lento e constante fluir da água por sobre a
sua superfície.
Água e pedra, nesse contexto,
são como que duas energias opostas e complementares, a saber, como o yin e o yang
da filosofia taoísta: aquela a objetivar o princípio feminino – fonte de vida –;
esta o masculino – de cujas entranhas brota água em abundância, neste caso
muito a lembrar o jorro líquido proveniente da rocha, quando tocada pelo cajado
de Moisés (Núm. 20: 11).
J.A.R. – H.C.
Ricardo Aleixo
(n. 1960)
Loa para um dia a
mais
1.
sem poder
quebrar a pedra
a água esculpe
na pedra
o que há de pedra
esquecido
no seu quem
próprio
de
água
2.
sem poder
deter a água
a pedra enfim
reconhece
no gesto
lento
e constante
da água
seu quem
de pedra
Pedras na água
(Ewa Helzen: artista
sueca)
Referência:
ALEIXO, Ricardo. Loa para um dia a mais. In: LAVELLE, Patrícia; BRITTO, Paulo Henriques (Orgs.). O nervo do poema: antologia para Orides Fontela. Belo Horizonte, BH: Relicário, 2018. p. 133-134.
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