Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Eugen Frunză - Confissão

Este canto do poeta romeno revela as intenções do ente lírico em fomentar as energias que sustentem um estado de ânimo construtivo, se não for por um motivo pessoal, muito mais por uma razão coletiva, feito um contributo ao desenvolvimento da nação – esse projeto que integra certo sentimento de pertencimento a um amplo espectro de valores culturais, sócio-políticos e históricos.

 

Considerando a menção, na derradeira estrofe, àqueles que se vendem a qualquer preço, estendendo as suas ações danosas a infrações lesas-pátrias, tudo o que se pormenoriza nas estâncias anteriores ganha novo acento, passando a representar uma bula procedimental para se viver de um modo ético, preservando íntegra a conduta.

 

J.A.R. – H.C.

 

Eugen Frunză

(1917-2002)

 

Confissão

 

Dai-me uma flor esbatida de bruma

e ela renascerá, no íntimo de mim,

com a seiva que hei de dar-lhe

e a brisa

e o adubo

de uma gota de sangue no esplendor.

 

Dai-me um pássaro doente, sem penugem –

no peito o levarei,

e, na cura que peça,

hei de tratá-lo

– como pai, como escravo –

até que possa outras aves seguir, tentando o voo.

 

Mostrai-me um solitário que suspire,

ou raio esquivo na extensão do céu –

hei de correr o mundo, polo a polo,

trazendo, em palma aberta, a própria luz.

 

Role uma lágrima,

hei de secá-la.

Dores maiores, dores menores,

hei de acalmá-las.

Hei de cantá-las, canções piedosas,

a qualquer berço,

a qualquer fronte...

 

Mas se um pulha cruzar o meu caminho,

desses que vendem o canto ou a nação,

ó, dai-me, dai-me todos, toda a dor

das dores que o abatam –

que possam reduzir-lhe à cinza o coração.

 

Renascimento Dourado

(Julia Tan SH: artista singapurense)

 

Referência:

 

FRUNZĂ, Eugen. Confissão. Tradução de Nelson Vainer. In: VAINER, Nelson (Seleção e Tradução). Antologia da poesia romena. Apreciação de Guilherme de Almeida. Prefácio de I. D. Balan. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira, 1966. p. 191-192.

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