Este canto do poeta romeno
revela as intenções do ente lírico em fomentar as energias que sustentem um
estado de ânimo construtivo, se não for por um motivo pessoal, muito mais por
uma razão coletiva, feito um contributo ao desenvolvimento da nação – esse
projeto que integra certo sentimento de pertencimento a um amplo espectro de valores
culturais, sócio-políticos e históricos.
Considerando a menção,
na derradeira estrofe, àqueles que se vendem a qualquer preço, estendendo as
suas ações danosas a infrações lesas-pátrias, tudo o que se pormenoriza nas
estâncias anteriores ganha novo acento, passando a representar uma bula procedimental
para se viver de um modo ético, preservando íntegra a conduta.
J.A.R. – H.C.
Eugen Frunză
(1917-2002)
Confissão
Dai-me uma flor
esbatida de bruma
e ela renascerá, no
íntimo de mim,
com a seiva que hei
de dar-lhe
e a brisa
e o adubo
de uma gota de sangue
no esplendor.
Dai-me um pássaro
doente, sem penugem –
no peito o levarei,
e, na cura que peça,
hei de tratá-lo
– como pai, como
escravo –
até que possa outras
aves seguir, tentando o voo.
Mostrai-me um
solitário que suspire,
ou raio esquivo na
extensão do céu –
hei de correr o
mundo, polo a polo,
trazendo, em palma
aberta, a própria luz.
Role uma lágrima,
hei de secá-la.
Dores maiores, dores
menores,
hei de acalmá-las.
Hei de cantá-las,
canções piedosas,
a qualquer berço,
a qualquer fronte...
Mas se um pulha
cruzar o meu caminho,
desses que vendem o
canto ou a nação,
ó, dai-me, dai-me
todos, toda a dor
das dores que o
abatam –
que possam
reduzir-lhe à cinza o coração.
Renascimento Dourado
(Julia Tan SH:
artista singapurense)
Referência:
FRUNZĂ, Eugen. Confissão.
Tradução de Nelson Vainer. In: VAINER, Nelson (Seleção e Tradução). Antologia
da poesia romena. Apreciação de Guilherme de Almeida. Prefácio de I. D.
Balan. Rio de Janeiro, GB: Civilização Brasileira, 1966. p. 191-192.
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