Eis aqui dois poemas acerca
do mesmo tema concernente à exteriorização da subjetividade humana por meio da
arte: o primeiro, sobre o ofício da palavra em versos – essa necessidade quase compulsiva
de gestar beleza e harmonia através da linguagem –; o segundo, mais conforme às
competências e aos artifícios das artes plásticas.
Ao fundo dessa
paisagem, os mesmos predicados de ordem estética, colimados num prévio jorro de
pensamentos na mente do artista, pejados talvez de imaginação ou de fantasia e vocacionados
a trazer à experiência humana novos sentidos, outros tentames, além do prazer e
do gáudio que podem estar à volta de todo ato criador.
J.A.R. – H.C.
Ildefonso de Sambaíba
(n. 1953)
interrogativo
sou, acaso, poeta?
incerteza e desejo
de não insistir
mas, poematizar
é uma forma de
existir
eu saberia viver
sem sorver esse
elixir?
01.04.18
seção: “numérios” (p.
32)
Retrato de um Artista
(supostamente Antonio
Vassilacchi, conhecido por L’Aliense)
(Jacopo Palma, o
Jovem: pintor italiano)
têmperas da criação
contemple-se a
estética da obra
à distância da
estática do minério.
ele apenas é o
suporte da forma:
material é o entalhe;
imaterial, o detalhe
– soberano é o pouso
da arte!
autônoma, exibe jus
deslumbres
inda que posta em
frágil cortiça:
na matéria ferida
a beleza é aferida
antes das mãos mesmas
que
moldam o castelo na
areia, ou
regulam a têmpera do
bronze,
na mente que a cogita
a inspiração já
habita:
o pensamento é causa
primeira da criação!
29.05.21
seção: “artérios” (p.
63)
Referência:
SAMBAÍBA, Ildefonso
de. interrogativo / têmperas da criação. In: __________. a revoada dos
albatrozes. 1. ed. Brasília, DF: Art Letras Editora, mai. 2022. p. 32 e 63, respectivamente.
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Caro Rodrigues, hoje encontrei, via google, a postagem de dois poemas de minha autoria (Interrogativo e Têmperas da Criação). Fiquei radiante e não posso deixar de agradecer-te a escolha dos dois textos. Cordial abraço do autor Ildefonso de Sambaíba
ResponderExcluirPrezado Ildefonso: não há de quê! De fato, sou eu a tornar-me grato pela disposição de poetas, como você, em capturar os revérberos inauditos do belo, ocultos nos escaninhos do mundo, para convertê-los em palavras, em poesias. Um abraço. João A. Rodrigues
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