Dove redigiu este
poema mais de vinte anos após o 4.7.1964 a que dizem respeito o título e os
fatos nele descritos: dois dias antes, em 2.7.1964, Lyndon Johnson promulgara a
Lei dos Direitos Civis nos EUA, proibindo a discriminação com base em raça,
cor, religião, sexo e nacionalidade (posteriormente, orientação sexual e
identidade de gênero foram incluídas nesse rol).
Para as pessoas de
origem negra que vivenciaram os dias que antecederam o advento desse marco
legal, ficou a memória de eventos lamentáveis que depõem contra o resguardo de
uma imprescindível garantia à dignidade da pessoa humana: a voz lírica se
propõe mostrar ao leitor uma certa visão conflitiva e receosa de uma mãe que
experimentara o lado mais intolerante da discriminação, frente à perspectiva de
suas filhas, então ainda não suficientemente maduras para compreender a
totalidade da situação em que imersas.
J.A.R. – H.C.
Rita Dove
(n. 1952)
(Independence Day,
1964)
On her 36th birthday,
Thomas had shown her
her first swimming
pool. It had been
his favorite color, exactly
– just
so much of it, the
swimmers’ white arms jutting
into the chevrons of
high society.
She had rolled up her
window
and told him to drive
on, fast.
Now this act of mercy:
four daughters
dragging her to their husbands’
company picnic,
white families on one side and
them
on the other, unpacking the same
squeeze bottles of Heinz, the
same
waxy beef patties and Salem
potato chip bags.
So he was dead for
the first time
on Fourth of July –
ten years ago
had been harder,
waiting for something to happen,
and ten years before
that, the girls
like young horses
eyeing the track.
Last August she stood
alone for hours
in front of the T.V.
set
as a crow’s wing
moved slowly through
the white streets of
government.
That brave swimming
scared her, like Joanna
saying
Mother, we’re
Afro-Americans now!
What did she know
about Africa?
Were there lakes like
this one
with a rowboat pushed
under the pier?
Or Thomas’ Great
Mississippi
with its sullen
silks? (There was
the Nile but the Nile
belonged
to God.) Where she
came from
was the past, 12
miles into town
where nobody had
locked their back door,
and Goodyear hadn’t
begun to dream of a park
under the company
symbol, a white foot
sprouting two small
wings.
Placa do Wingfoot
Lake State Park
Lago Wingfoot
(Dia da
Independência, 1964)
Quando ela completou
o seu 36º aniversário, Thomas
lhe havia mostrado a
sua primeira piscina. Era exatamente
da cor favorita dele
– e em tal medida
justo dessa cor, os
braços brancos dos nadadores a sobressaírem
dentre os distintivos
da alta sociedade.
Ela fechou a vidraça
e lhe disse para seguir
conduzindo, rápido.
Agora este ato de
misericórdia: quatro filhas
arrastando-a para o
piquenique da companhia de seus esposos,
famílias brancas de
um lado e eles
do outro, desempacotando
as mesmas
garrafas espremíveis
de Heinz, os mesmos
rissóis de carne
cerosa e sacos de batatas fritas de Salem.
Com efeito, pela
primeira vez no Quatro de Julho
ele estava morto – há
dez anos
havia sido mais
difícil, à espera de que algo acontecesse,
e dez anos antes
disso, as meninas
como cavalos jovens de
olho na pista.
Em agosto passado,
ela ficou sozinha por horas
em frente ao aparelho
de televisão,
enquanto uma asa de
corvo movia-se lentamente através
das ruas brancas onde
circunscrita a estrutura de governo.
Aquela forma indômita
de natação
assustou-a, tanto
quanto Joanna a lhe dizer
Mãe, agora somos Afro-Americanos!
O que sabia ela sobre
a África?
Havia lagos como este
com um barco a remo impelido
sob o molhe?
Ou o ‘Grande
Mississipi’ de Thomas
com suas sedas
soturnas? (Havia
o Nilo, mas o Nilo
pertencia
a Deus). De onde ela
veio
era o passado, 12
milhas até o povoado
onde ninguém trancara
a porta dos fundos,
e a Goodyear sequer
começara a sonhar com um parque
ao abrigo do símbolo
da empresa, um pé branco
de onde brotam duas
pequenas asas.
Referência:
DOVE, Rita. Wingfoot
Lake (Independence Day, 1964). In: __________. Selected poems. New York,
NY: Vintage Books, 1993. p. 198-199.
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