O ente lírico dirige
sua fala ao Senhor para lhe relatar sobre os encantos – sobretudo os da natureza
– que os seus olhos são capazes de alcançar estando neste mundo, logo
especulando sobre o que ainda poderia esperar depois de seu passamento, quando findo
este mirar terreno, outro ilimitado olhar lhe permitir contemplar a “face
resplandecente” do Criador.
De fato, questiona-se
o falante sobre o sentido da vida a partir da beleza deste domínio terreno, conjugando
traquejo poético e fervor hierático para sintetizar, nos versos, uma perspectiva
ao mesmo tempo imanente e transcendente perante o enigma desta existência e de
uma presumível vida futura: “Seja-me a morte um maior nascimento!”, diz o poeta.
J.A.R. – H.C.
Joan Maragall
(1860-1911)
Canto Espiritual
Si el mundo ya es tan
bello y se refleja,
¡oh, Señor!, con tu
paz en nuestros ojos,
¿qué más nos puedes
dar en otra vida?
Así estoy tan celoso
de estos ojos
y el cuerpo que me
diste, y su latido
de siempre, ¡y tengo
tal miedo a la muerte!
Pues ¿con qué otros
sentidos me harás ver
este azul que corona
las montañas,
el ancho mar, y el
sol que en todo luce?
Dame en estos
sentidos paz eterna,
y no querré más cielo
que éste, azul.
A aquel que solamente
grite “Párate”
al instante que venga
a darle muerte,
no le entiendo,
Señor, ¡yo, que quisiera
parar tantos
instantes cada día
para hacerlos eternos
en mi alma!
¿O es que este “hacer
eterno” es ya la muerte?
Pero, entonces, la
vida ¿qué seria?
Sombra del tiempo
huyente sólo fuera,
ilusión de lo cerca y
de lo lejos,
cuenta del mucho, el
poco, el demasiado,
¡engañoso, pues todo ya
lo es todo!
¡Es igual! Este
mundo, como sea,
tan extenso, diverso
y temporal;
esta tierra, con todo
lo que engendra,
es mi patria, Señor,
¿y no podría
ser también una
patria celestial?
Hombre soy, y es
humana mi medida
para todo lo que crea
y espere;
si mi fe y mi
esperanza aquí se quedan,
¿me acusarás por eso
más allá?
Más allá veo el cielo
y las estrellas;
y aun allí quiero un
hombre seguir siendo:
si me has hecho las
cosas tan hermosas
y para ellas mis
ojos, al cerrarlos
¿por qué buscar
entonces outro “como”?
¡Si para mí jamás lo
habrá como éste!
Ya sé que eres, mas
dónde ¿quién lo sabe?
Cuanto miro se te
parece en mi...
Déjame, pues, creer
que eres aquí.
Y cuando venga la
hora temerosa
en que estos ojos de
hombre se me cierren,
ábrame tú, Señor,
otros más grandes
para poder mirar tu
rostro inmenso.
¡Nacimiento mayor sea
mi muerte!
Canção Espiritual
(Zsolt Malasits:
artista húngaro)
Canto Espiritual
Se o mundo é já tão
belo, contemplado
de vossa paz, Senhor,
com os olhos plenos
que mais podereis
dar-me na outra vida?
Por isso tão zeloso
de meus olhos
e de meu rosto estou
e deste corpo
que me destes e deste
coração
que o segue sempre...
E temo tanto a morte!
Pois, com que outros
sentidos poderei
ver este azul do céu
que se derrama
por sobre os montes e
esse mar imenso
e esse sol que
fulgura em toda parte?
Dai-me a estes
sentidos paz eterna:
não buscarei mais céu
que o céu azul...
Àquele que jamais
disse a um instante
sem ser da morte o
derradeiro: – Para! –
não compreendo,
Senhor. A mim, quem dera
tantos momentos
retomar ao dia
para em meu coração
eternizá-los!
É esse eternizar,
acaso, a morte?
Porém então, a vida
que seria?
Apenas sombra do
momento efêmero,
aparência do próximo
ou longínquo,
resumo enganador de
quanto é pouco
ou muito ou
demasiado? Pois então,
tudo o que encerra o
mundo não é tudo?
Mas não importa. Seja
como for,
esta terra tão vasta
e singular,
tão temporal como o
que nela vive
Senhor, é minha
pátria. E não podia
ser também uma pátria
celestial?
Homem sou. Com razão
minha medida
de ser e de esperar é
humana. Aqui
se detém minha fé,
minha esperança.
Me culpareis por isso
na outra vida?
Mais além vejo o céu,
vejo as estrelas
e lá quisera ser
humano ainda.
Se a meus olhos as
coisas haveis feito
tão belas e para elas
meus sentidos
haveis criado, por
que desprezá-las
e o mistério
inquirir? Se para mim
outro mundo não há
como este mundo?
Eu sei que estais,
Senhor, mas onde, onde?
Quem o soubera! Tudo
quanto vejo
em minha alma reflete
a vossa imagem.
Deixai-me pois pensar
que estais aqui.
E ao chegar o momento
tão temido
em que se fecharão
estes meus olhos,
abri-me outros,
Senhor, outros maiores
para ver vossa face
resplendente.
Seja-me assim a morte
maior vida.
Referência:
MARAGALL, Joan. Canto
espiritual / Canto espiritual. Tradução de Henriqueta Lisboa. In: LISBOA,
Henriqueta. Poesia traduzida. Organização, introdução e notas de
Reinaldo Marques e Maria Eneida Victor Farias. Edição bilíngue. Belo Horizonte,
MG: Ed. UFMG, 2001. Em espanhol: p. 232 e 234; em português: p. 233 e 235.
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