Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Joan Maragall - Canto Espiritual

O ente lírico dirige sua fala ao Senhor para lhe relatar sobre os encantos – sobretudo os da natureza – que os seus olhos são capazes de alcançar estando neste mundo, logo especulando sobre o que ainda poderia esperar depois de seu passamento, quando findo este mirar terreno, outro ilimitado olhar lhe permitir contemplar a “face resplandecente” do Criador.

 

De fato, questiona-se o falante sobre o sentido da vida a partir da beleza deste domínio terreno, conjugando traquejo poético e fervor hierático para sintetizar, nos versos, uma perspectiva ao mesmo tempo imanente e transcendente perante o enigma desta existência e de uma presumível vida futura: “Seja-me a morte um maior nascimento!”, diz o poeta.

 

J.A.R. – H.C.

 

Joan Maragall

(1860-1911)

 

Canto Espiritual

 

Si el mundo ya es tan bello y se refleja,

¡oh, Señor!, con tu paz en nuestros ojos,

¿qué más nos puedes dar en otra vida?

 

Así estoy tan celoso de estos ojos

y el cuerpo que me diste, y su latido

de siempre, ¡y tengo tal miedo a la muerte!

 

Pues ¿con qué otros sentidos me harás ver

este azul que corona las montañas,

el ancho mar, y el sol que en todo luce?

Dame en estos sentidos paz eterna,

y no querré más cielo que éste, azul.

 

A aquel que solamente grite “Párate”

al instante que venga a darle muerte,

no le entiendo, Señor, ¡yo, que quisiera

parar tantos instantes cada día

para hacerlos eternos en mi alma!

¿O es que este “hacer eterno” es ya la muerte?

Pero, entonces, la vida ¿qué seria?

Sombra del tiempo huyente sólo fuera,

ilusión de lo cerca y de lo lejos,

cuenta del mucho, el poco, el demasiado,

¡engañoso, pues todo ya lo es todo!

 

¡Es igual! Este mundo, como sea,

tan extenso, diverso y temporal;

esta tierra, con todo lo que engendra,

es mi patria, Señor, ¿y no podría

ser también una patria celestial?

Hombre soy, y es humana mi medida

para todo lo que crea y espere;

si mi fe y mi esperanza aquí se quedan,

¿me acusarás por eso más allá?

 

Más allá veo el cielo y las estrellas;

y aun allí quiero un hombre seguir siendo:

si me has hecho las cosas tan hermosas

y para ellas mis ojos, al cerrarlos

¿por qué buscar entonces outro “como”?

¡Si para mí jamás lo habrá como éste!

 

Ya sé que eres, mas dónde ¿quién lo sabe?

Cuanto miro se te parece en mi...

Déjame, pues, creer que eres aquí.

Y cuando venga la hora temerosa

en que estos ojos de hombre se me cierren,

ábrame tú, Señor, otros más grandes

para poder mirar tu rostro inmenso.

¡Nacimiento mayor sea mi muerte!

 

Canção Espiritual

(Zsolt Malasits: artista húngaro)

 

Canto Espiritual

 

Se o mundo é já tão belo, contemplado

de vossa paz, Senhor, com os olhos plenos

que mais podereis dar-me na outra vida?

 

Por isso tão zeloso de meus olhos

e de meu rosto estou e deste corpo

que me destes e deste coração

que o segue sempre... E temo tanto a morte!

 

Pois, com que outros sentidos poderei

ver este azul do céu que se derrama

por sobre os montes e esse mar imenso

e esse sol que fulgura em toda parte?

Dai-me a estes sentidos paz eterna:

não buscarei mais céu que o céu azul...

 

Àquele que jamais disse a um instante

sem ser da morte o derradeiro: – Para! –

não compreendo, Senhor. A mim, quem dera

tantos momentos retomar ao dia

para em meu coração eternizá-los!

É esse eternizar, acaso, a morte?

Porém então, a vida que seria?

Apenas sombra do momento efêmero,

aparência do próximo ou longínquo,

resumo enganador de quanto é pouco

ou muito ou demasiado? Pois então,

tudo o que encerra o mundo não é tudo?

 

Mas não importa. Seja como for,

esta terra tão vasta e singular,

tão temporal como o que nela vive

Senhor, é minha pátria. E não podia

ser também uma pátria celestial?

Homem sou. Com razão minha medida

de ser e de esperar é humana. Aqui

se detém minha fé, minha esperança.

Me culpareis por isso na outra vida?

 

Mais além vejo o céu, vejo as estrelas

e lá quisera ser humano ainda.

Se a meus olhos as coisas haveis feito

tão belas e para elas meus sentidos

haveis criado, por que desprezá-las

e o mistério inquirir? Se para mim

outro mundo não há como este mundo?

 

Eu sei que estais, Senhor, mas onde, onde?

Quem o soubera! Tudo quanto vejo

em minha alma reflete a vossa imagem.

Deixai-me pois pensar que estais aqui.

E ao chegar o momento tão temido

em que se fecharão estes meus olhos,

abri-me outros, Senhor, outros maiores

para ver vossa face resplendente.

Seja-me assim a morte maior vida.

 

Referência:

 

MARAGALL, Joan. Canto espiritual / Canto espiritual. Tradução de Henriqueta Lisboa. In: LISBOA, Henriqueta. Poesia traduzida. Organização, introdução e notas de Reinaldo Marques e Maria Eneida Victor Farias. Edição bilíngue. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2001. Em espanhol: p. 232 e 234; em português: p. 233 e 235.

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