Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

César Pereira - Medida

Às voltas com logros e malogros na luta para domar as palavras, o poeta lança mão de sua forja para metais, aquecendo a liga dos vocábulos com técnica, habilidade e, quiçá, energia suficientes, para moldar os versos entre a bigorna e o martelo, em personalíssimo e irreprisável ato criador: “Cada poema é um objeto único, criado por uma ‘técnica’ que morre no exato momento da criação.” – assim o afirma o Nobel mexicano Octavio Paz. (1984a, p. 20)

 

Com efeito, criar e recriar é o sentido maior de quem se dispõe a ver o mundo em constante fluxo, numa seta em volutas rumo ao porvir: “O poema (...) apresenta-se como um círculo ou uma esfera – algo que se fecha sobre si mesmo, universo autossuficiente e no qual o fim é também um princípio que volta, se repete e se recria.” (PAZ, 1984a, p. 83-84)

 

E claro, se o poeta diz que se recria nesse ato de gênese, é porque... “Não há poema em si, mas em mim ou em ti.” (PAZ, 1984b, p. 202) – ou algo como o poema segundo a concepção do poeta e o poema conforme a interpretação do leitor.

 

J.A.R. – H.C.

 

César A. Pereira

(n. 1934)

 

Medida

 

Domo palavras

como quem forja metais

 

Pequeno no verbo

e no tamanho

nada sou

nada ganho

 

Rasa

é a medida que nos circula

mar

que nos martela

mar tela de logro

mar logro

malogro

quando posso logro o logro

e me recrio

 

A domadora de nuvens

(Mariana Kalacheva: artista búlgara)

 

Referências:

 

PAZ, Octavio (1984a). O arco e a lira. Tradução de Olga Savary. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1984. (Coleção ‘Logos’)

 

PAZ, Octavio (1984b). Os filhos do barro. Tradução de Olga Savary. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1984.

 

PEREIRA, César. Medida. In: DEGRAZIA, José Eduardo (Org.). Em mãos III. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 22.

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