Às voltas com logros
e malogros na luta para domar as palavras, o poeta lança mão de sua forja para
metais, aquecendo a liga dos vocábulos com técnica, habilidade e, quiçá, energia
suficientes, para moldar os versos entre a bigorna e o martelo, em personalíssimo
e irreprisável ato criador: “Cada poema é um objeto único, criado por uma ‘técnica’
que morre no exato momento da criação.” – assim o afirma o Nobel mexicano Octavio
Paz. (1984a, p. 20)
Com efeito, criar e recriar
é o sentido maior de quem se dispõe a ver o mundo em constante fluxo, numa seta
em volutas rumo ao porvir: “O poema (...) apresenta-se como um círculo ou uma
esfera – algo que se fecha sobre si mesmo, universo autossuficiente e no qual o
fim é também um princípio que volta, se repete e se recria.” (PAZ, 1984a, p.
83-84)
E claro, se o poeta
diz que se recria nesse ato de gênese, é porque... “Não há poema em si, mas em
mim ou em ti.” (PAZ, 1984b, p. 202) – ou algo como o poema segundo a concepção do
poeta e o poema conforme a interpretação do leitor.
J.A.R. – H.C.
César A. Pereira
(n. 1934)
Medida
Domo palavras
como quem forja
metais
Pequeno no verbo
e no tamanho
nada sou
nada ganho
Rasa
é a medida que nos
circula
mar
que nos martela
mar tela de logro
mar logro
malogro
quando posso logro o
logro
e me recrio
A domadora de nuvens
(Mariana Kalacheva:
artista búlgara)
Referências:
PAZ, Octavio (1984a).
O arco e a lira. Tradução de Olga Savary. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova
Fronteira, 1984. (Coleção ‘Logos’)
PAZ, Octavio (1984b).
Os filhos do barro. Tradução de Olga Savary. Rio de Janeiro, RJ: Nova
Fronteira, 1984.
PEREIRA, César. Medida. In: DEGRAZIA, José Eduardo (Org.). Em mãos III. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 22.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário