Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Raúl Bañuelos - [Em que linhas me detenho]

A voz lírica dirige-se ao poder criador, uma espécie de ginete, para que lhe oriente sobre o melhor andamento em relação ao correr da pena, quando seguir com as palavras e quando sustá-las, deixando prevalecer um oportuno hiato de silêncio, ao longo dessa cavalgada que é a escritura do poema em que lançado o poeta.

 

Tome-se o falante como um corcel guiado por um hábil cavaleiro a lhe “esporear a memória”, domando-lhe o sangue nas veias, para que os versos não sejam somente um puro jorro de emoções. Ou ainda: se o ginete não se dispuser a lhe adestrar o fluxo das palavras, a voz lírica propõe-se soltar as amarras “ao relincho da carne” – e então seja o que deus quiser!

 

J.A.R. – H.C.

 

Raúl Bañuelos

(n. 1954)

 

Menester de la sangre

 

En qué líneas ne detengo, en qué palabra,

ahora que me has echado a este poema?

No me dejes así despalabrado.

 

Dime cuándo, en qué coma me despido.

 

Tira de las bridas. O suéltalas del todo.

 

Espoléame la memoria, jinete de mis venas.

Hazle saber al silencio que tú tienes la palabra.

 

Pero si no quieres decirme nada,

vete, o al relincho de la carne

intentaré quitarme la montura.

 

Ao fim do dia

(Michael Parker: pintor inglês)

 

[Em que linhas me detenho]

 

Em que linhas me detenho, em qual palavra,

agora que me jogaste a este poema?

Não me deixes assim despalavrado.

 

Diz-me quando, em qual vírgula me despeço.

 

Estica as rédeas. Ou solta-as de tudo.

 

Esporeia-me a memória, ginete de minhas veias.

Faz com que o silêncio saiba que tens a palavra.

 

Mas se não queres dizer-me nada,

vai-te, ou ao relincho da carne

tentarei desfazer-me dos arreios.

 

Referências:

 

Em Espanhol

 

BAÑUELOS, Raúl. Menester de la sangre. In: __________. Casa de sí. 1. ed. México, D.F.: Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), 1993. p. 110.

 

Em Português

 

BAÑUELOS, Raúl. [Em que linhas me detenho]. Tradução de Floriano Martins. In: LANGAGNE, Eduardo (Organização e Estudo Introdutório). Dentro do poema (poetas mexicanos nascidos entre 1950 e 1959). Fortaleza, CE: Edições UFC & Secult-CE, 2009. p. 96.

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