A voz lírica
dirige-se ao poder criador, uma espécie de ginete, para que lhe oriente sobre o
melhor andamento em relação ao correr da pena, quando seguir com as palavras e
quando sustá-las, deixando prevalecer um oportuno hiato de silêncio, ao longo
dessa cavalgada que é a escritura do poema em que lançado o poeta.
Tome-se o falante
como um corcel guiado por um hábil cavaleiro a lhe “esporear a memória”, domando-lhe
o sangue nas veias, para que os versos não sejam somente um puro jorro de
emoções. Ou ainda: se o ginete não se dispuser a lhe adestrar o fluxo das
palavras, a voz lírica propõe-se soltar as amarras “ao relincho da carne” – e então
seja o que deus quiser!
J.A.R. – H.C.
Raúl Bañuelos
(n. 1954)
Menester de la sangre
En qué líneas ne
detengo, en qué palabra,
ahora que me has
echado a este poema?
No me dejes así
despalabrado.
Dime cuándo, en qué
coma me despido.
Tira de las bridas. O
suéltalas del todo.
Espoléame la memoria,
jinete de mis venas.
Hazle saber al silencio
que tú tienes la palabra.
Pero si no quieres
decirme nada,
vete, o al relincho
de la carne
intentaré quitarme la
montura.
Ao fim do dia
(Michael Parker:
pintor inglês)
[Em que linhas me
detenho]
Em que linhas me
detenho, em qual palavra,
agora que me jogaste
a este poema?
Não me deixes assim
despalavrado.
Diz-me quando, em
qual vírgula me despeço.
Estica as rédeas. Ou
solta-as de tudo.
Esporeia-me a
memória, ginete de minhas veias.
Faz com que o
silêncio saiba que tens a palavra.
Mas se não queres
dizer-me nada,
vai-te, ou ao
relincho da carne
tentarei desfazer-me
dos arreios.
Referências:
Em Espanhol
BAÑUELOS, Raúl. Menester
de la sangre. In: __________. Casa de sí. 1. ed. México, D.F.:
Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), 1993. p. 110.
Em Português
BAÑUELOS, Raúl. [Em
que linhas me detenho]. Tradução de Floriano Martins. In: LANGAGNE, Eduardo
(Organização e Estudo Introdutório). Dentro do poema (poetas mexicanos
nascidos entre 1950 e 1959). Fortaleza, CE: Edições UFC & Secult-CE, 2009. p.
96.
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