A poetisa dominicana
fala-nos, aqui, do processo de gestação – e de transposição a um texto – da
poesia que espreita em cada canto da realidade: a seu ver, o poema não se deixa
subornar com facilidade, não consistindo em mera descrição óbvia de fatos, de histórias
ocorridas no quotidiano do poeta ou, porventura, da própria humanidade.
Se o poema “banqueteia-se
de dores” é porque, como muito já se disse, a beleza dos versos muitas vezes se
vale de uma tristeza essencial, quase como em equivalência aos versos do “Samba
da Benção”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, comutando-se a palavra “samba”
por “poema”: “Mas pra fazer um samba com beleza / é preciso um bocado de
tristeza; / senão, não se faz um samba, não”.
J.A.R. – H.C.
Soledad Álvarez
(n. 1950)
Arte Poética
Ese que acecha
festejando dolores
disse de historias en
ocasiones
demasiado evidentes.
Impertinente, no se
deja comprar
hace sentir su
presencia en lugares disímiles
nos conmina con fúria
y aúlla para mostrar su desacuerdo.
Compañero tormentoso
ese
poema
espera tranquilo para
ser desplazado.
Homero recitando seus
poemas
na cidade de Argos
(Denis A. Volozan:
pintor francês)
Arte Poética
Esse que espreita,
banqueteando-se de dores,
divulga histórias que
às vezes
são óbvias demais.
Impertinente, não se
deixa comprar,
faz sentir sua
presença nos mais distintos lugares,
intimida-nos com
fúria, uivando para mostrar seu desacordo.
Companheiro tempestuoso,
esse
poema
espera tranquilo para
ser transposto.
Referência:
ÁLVAREZ, Soledad.
Arte poética. In: DE FILIPPIS, Daisy Cocco (Selección y Prólogo). Sin otro
profeta que su canto: antología de poesía escrita por dominicanas. Santo
Domingo, DO: Editora Taller, jul. 1988. p. 121. (‘Biblioteca Taller’; n. 263)
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