Os grilos surgem como
metáfora dos poetas neste poema do mexicano Alberto Blanco: segundo lhe parece,
praticamente não têm audiência nos dias que correm e, por mais que se esforcem,
o bulício que provocam não chega a mudar o rumo das coisas.
Mas a poesia, seja
como for, é indispensável para se poder apreender a realidade em suas mais
distintas formas! Com feito, a vida seria uma “noite deserta”, sem brilho e sem
beleza, se não fossem os filamentos que se disseminam para além do pensamento e
da linguagem, tantas vezes plasmados em versos por meio da sensibilidade dos poetas,
os quais, via de regra, acabam por ser os únicos capazes de deslindar o “puzzle”
que nos chega formulado pela “espuma dos dias”.
J.A.R. – H.C.
Alberto Blanco
(n. 1951)
En Defensa de la
Poesía
Recuerdo un
pensamiento
relativo a los
grillos
Su clamor es inútil
y es triste su
jornada
no tienen auditorio
ni les sirve de mucho
la fricción de sus
élitros
y el viento de sus
alas
Pero sin la señal
cifrada en cada
brizna
persuasiva y hermosa
que entre ellos se
trasmiten
la noche no sería
– para los grillos –
noche
y la vida sin traza
de belleza sería
en la noche desierta
punto menos que nada
En: “Canto a la
sombra de los animales” (1988)
Grilo a trilar
(Kiyokata Kaburagi:
artista japonês)
Em Defesa da Poesia
Recordo um pensamento
relativo aos grilos
Seu clamor é inútil
e triste é sua
jornada
não têm audiência
não lhes são de grande
proveito
nem a fricção de seus
élitros
nem o vento entre
suas asas
Mas sem o sinal
cifrado em cada filamento
persuasivo e belo
que entre eles são
transmitidos
a noite não seria
– para os grilos –
noite
e a vida sem traço
de beleza seria
na noite deserta
um quê de quase nada
Em: “Canto à sombra
dos animais” (1988)
Referência:
BLANCO, Alberto. En defensa
de la poesía. In: __________. El corazón del instante. 2. ed. México,
D.F.: Fondo de Cultura Económica (FCE), 2018. p. 234. (Colección ‘Poesía)
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