Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

Alberto Blanco - Em Defesa da Poesia

Os grilos surgem como metáfora dos poetas neste poema do mexicano Alberto Blanco: segundo lhe parece, praticamente não têm audiência nos dias que correm e, por mais que se esforcem, o bulício que provocam não chega a mudar o rumo das coisas.

 

Mas a poesia, seja como for, é indispensável para se poder apreender a realidade em suas mais distintas formas! Com feito, a vida seria uma “noite deserta”, sem brilho e sem beleza, se não fossem os filamentos que se disseminam para além do pensamento e da linguagem, tantas vezes plasmados em versos por meio da sensibilidade dos poetas, os quais, via de regra, acabam por ser os únicos capazes de deslindar o “puzzle” que nos chega formulado pela “espuma dos dias”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Alberto Blanco

(n. 1951)

 

En Defensa de la Poesía

 

Recuerdo un pensamiento

relativo a los grillos

 

Su clamor es inútil

y es triste su jornada

no tienen auditorio

ni les sirve de mucho

la fricción de sus élitros

y el viento de sus alas

 

Pero sin la señal

cifrada en cada brizna

persuasiva y hermosa

que entre ellos se trasmiten

la noche no sería

– para los grillos – noche

y la vida sin traza

de belleza sería

en la noche desierta

punto menos que nada

 

En: “Canto a la sombra de los animales” (1988)

 

Grilo a trilar

(Kiyokata Kaburagi: artista japonês)

 

Em Defesa da Poesia

 

Recordo um pensamento

relativo aos grilos

 

Seu clamor é inútil

e triste é sua jornada

não têm audiência

não lhes são de grande proveito

nem a fricção de seus élitros

nem o vento entre suas asas

 

Mas sem o sinal

cifrado em cada filamento

persuasivo e belo

que entre eles são transmitidos

a noite não seria

– para os grilos – noite

e a vida sem traço

de beleza seria

na noite deserta

um quê de quase nada

 

Em: “Canto à sombra dos animais” (1988)

 

Referência:

 

BLANCO, Alberto. En defensa de la poesía. In: __________. El corazón del instante. 2. ed. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica (FCE), 2018. p. 234. (Colección ‘Poesía)

Nenhum comentário:

Postar um comentário