Redigido em 1995 para
comemorar o quinquagésimo aniversário da Organização das Nações Unidas (ONU),
este poema de Angelou retrata o seu otimismo em relação à humanidade, a
despeito das atrocidades que derivam de muitas de nossas ações predatórias, vezes
sem conta abstraídas a quaisquer justificações éticas.
Nem demônios nem anjos:
incorremos nos horrores da guerra, nas desvirtudes de uma religião corrompida
por interesses outros que não os da dignificação da alma, na devastação do meio
ambiente, em hostilidades, ódios, brutalidades, embora tenhamos o potencial para
criar um mundo pacífico, pautado na esperança, na verdade, na justiça. O que
nos falta?!
J.A.R. – H.C.
Maya Angelou
(1928-2014)
A Brave and Startling
Truth
Dedicatet to the hope
for peace, wich lies,
sometimes hidden, in
every heart
We, this people, on a
small and lonely planet
Traveling through
casual space
Past aloof stars,
across the way of indifferent suns
To a destination
where all signs tell us
It is possible and
imperative that we learn
A brave and startling
truth
And when we come to
it
To the day of
peacemaking
When we release our
fingers
From fists of
hostility
And allow the pure
air to cool our palms
When we come to it
When the curtain
falls on the minstrel show of hate
And faces sooted with
scorn are scrubbed clean
When battlefields and
coliseum
No longer rake our
unique and particular sons and daughters
Up with the bruised
and bloody grass
To lie in identical
plots in foreign soil
When the rapacious
storming of the churches
The screaming racket
in the temples have ceased
When the pennants are
waving gaily
When the banners of
the world tremble
Stoutly in the good,
clean breeze
When we come to it
When we let the
rifles fall from our shoulders
And children dress
their dolls in flags of truce
When land mines of
death have been removed
And the aged can walk
into evenings of peace
When religious ritual
is not perfumed
By the incense of
burning flesh
And childhood dreams
are not kicked awake
By nightmares of
abuse
When we come to it
Then we will confess
that not the Pyramids
With their stones set
in mysterious perfection
Nor the Gardens of
Babylon
Hanging as eternal
beauty
In our collective
memory
Not the Grand Canyon
Kindled into
delicious color
By Western sunsets
Nor the Danube,
flowing its blue soul into Europe
Not the sacred peak
of Mount Fuji
Stretching to the
Rising Sun
Neither Father Amazon
nor Mother Mississippi who, without favor,
Nurture all creatures
in the depths and on the shores
These are not the
only wonders of the world
When we come to it
We, this people, on
this minuscule and kithless globe
Who reach daily for
the bomb, the blade and the dagger
Yet who petition in
the dark for tokens of peace
We, this people on
this mote of matter
In whose mouths abide
cankerous words
Which challenge our
very existence
Yet out of those same
mouths
Come songs of such
exquisite sweetness
That the heart
falters in its labor
And the body is
quieted into awe
We, this people, on
this small and drifting planet
Whose hands can
strike with such abandon
That in a twinkling,
life is sapped from the living
Yet those same hands can touch with such healing, irresistible tenderness
That the haughty neck
is happy to bow
And the proud back is
glad to bend
Out of such chaos, of
such contradiction
We learn that we are
neither devils nor divines
When we come to it
We, this people, on
this wayward, floating body
Created on this
earth, of this earth
Have the power to
fashion for this earth
A climate where every
man and every woman
Can live freely
without sanctimonious piety
Without crippling
fear
When we come to it
We must confess that
we are the possible
We are the
miraculous, the true wonder of this world
That is when, and
only when
We come to it.
Campo de trigo com
sol nascente
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
Uma Ousada e Surpreendente
Verdade
Dedicado à esperança
de paz, que jaz,
por vezes escondida,
em cada coração
Nós, este povo, em um
planeta pequeno e solitário
Estamos casualmente em
viagem pelo espaço
Entre estrelas
distantes, ao longo da órbita de sóis indiferentes
Até um destino onde
todos os sinais nos afirmam
Que é possível e imperativo
que assimilemos
Uma ousada e
surpreendente verdade
E quando lá chegarmos
Ao dia da pacificação
Quando distendermos
nossos dedos
Dos punhos da
hostilidade
E permitirmos que o
ar puro arrefeça nossas palmas
Quando lá chegarmos
Quando a cortina cair
sobre o espetáculo dos menestréis do ódio
E os rostos
enfarruscados de escárnio forem rostidos e limpos
Quando os campos de
batalha e o coliseu
Deixarem de arrebatar
nossos filhos e filhas únicos e exclusivos
Junto com a grama
calcada e ensanguentada
Para inumá-los em covas
idênticas em solo estrangeiro
Quando a investida
predatória das igrejas
E o alarido
vociferante nos templos houverem cessado
Quando as flâmulas
ondularem galhardamente
Quando os estandartes
do mundo tremularem com vigor
Ao sabor de uma brisa
pura e benfazeja
Quando lá chegarmos
Quando deixarmos cair
os rifles de nossos ombros
E as crianças
vestirem suas bonecas com as bandeiras da trégua
Quando as mortíferas
minas terrestres forem removidas
E os idosos puderem
caminhar em noites de paz
Quando os rituais
religiosos não estiverem impregnados
Por incenso de carne
queimada
E os sonhos da
infância não forem destroçados
Pelos pesadelos do
abuso
Quando lá chegarmos
Então admitiremos que
nem as Pirâmides
Com suas pedras
engastadas em misteriosa perfeição
Nem os Jardins da
Babilônia
Suspensos ao status
de eterna beleza
Em nossa memória coletiva
Tampouco o Grand Canyon
Iluminado com
deliciosas cores
Pelos pores do sol do
Oeste
Nem o Danúbio, a
verter sua alma azul pela Europa
Nem o pico sagrado do
Monte Fuji
Que se estende até o
Sol Nascente
Tampouco o Pai
Amazonas ou a Mãe Mississipi que, sem distinção,
Nutrem todas as
criaturas em suas profundezas e margens
São as únicas
maravilhas do mundo
Quando lá chegarmos
Nós, este povo, neste
minúsculo e desirmanado globo
Que diariamente lança
mão de bombas, lâminas e adagas
E que, ainda assim, vindica
sinais de paz na escuridão
Nós, este povo neste
grânulo de matéria
Cujas bocas teimam em
perpetuar palavras devastadoras
Que lançam reptos à nossa
própria existência
Haveremos de perceber
que dessas mesmas bocas
Podem sair canções de
tão requintada doçura
Capazes de fazer o
coração fraquejar em sua lida
E o corpo se aquietar
em reverência
Nós, este povo, neste
pequeno planeta à deriva
Cujas mãos são capazes
de atacar com tal impetuosidade
Que, num piscar de olhos, a vida de qualquer criatura pode ser retirada
Mãos que, no entanto,
também podem tocar com uma ternura
tão curativa e
irresistível
Que o colo altivo logo
se compraz em submeter-se
E as costas
orgulhosas se contentam em curvar-se
Haveremos de deduzir
de tal caos, de tal contradição
Que não somos nem
anjos nem demônios
Quando lá chegarmos
Nós, este povo, neste
corpo flutuante e voluntarioso
Criado nesta terra, por
esta terra
Compreenderemos que temos
o poder de sobre ela modelar
Um ambiente em que
cada homem e cada mulher
Possam viver
livremente sem fingida piedade
Sem medos
paralisantes
Quando lá chegarmos
Haveremos de admitir
que somos a possível
Que somos a
miraculosa, a verdadeira maravilha deste mundo
Quando e somente
quando
Lá chegarmos.
Referência:
ANGELOU, Maya. A brave and startling truth. In: __________. Celebrations: rituals of peace and prayer. 1st ed. New York, NY: Random House, 2006. p. 17-23.
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